Alguns podem até achar exagero a quantidade de vezes que falo sobre a ecologia intestinal por aqui. Mas a questão é que não se trata de uma preferência pessoal. É a ciência que finalmente está compreendendo o quanto as bactérias boas dos intestinos são fundamentais para uma ótima saúde.
A prova disso são mais e mais pesquisas que surgem a todo momento. E na mesma medida, os cientistas vão descobrindo que a influência da microbiota no nosso corpo vai muito além do imaginado! Só para recapitular, já comentei que uma boa ecologia intestinal pode:
- ajudar na recuperação de AVCs;
- proteger contra danos neurológicos;
- melhorar a pele;
- ajudar no combate da doença inflamatória intestinal;
- e muito mais…
Por outro lado, é claro, não cultivar esses “bons bichinhos” dentro de você aumenta o risco de doenças, e estudos recentes mostram que pode estar relacionado a problemas que vão de fungos nas unhas à Doença de Parkinson! É realmente algo com o que você deve se preocupar.
Ecologia intestinal e a química do seu corpo
Uma nova pesquisa, publicada na conceituada revista Nature e realizada pela Universidade da California – San Diego, buscou uma avaliação mais aprofundada sobre como as bactérias boas influência no organismo dos indivíduos. Para isso, eles compararam ratos com ecologia intestinal normal a outros sem quaisquer micro-organismos, inclusive mapeando as diferentes moléculas presentes em vários órgãos.
Os resultados surpreenderam: os ratos que tinham ecologia intestinal normal apresentavam moléculas diferentes em diversas partes do corpo, quando comparados àqueles sem micro-organismos internos. Isso significa que a ecologia intestinal interfere na química de partes do corpo distantes do intestino, alterando o comportamento molecular.
Para se ter uma ideia, órgãos como o útero e o cérebro de ratos com microbioma normal tinham cerca de 20% de moléculas diferentes daqueles sem microbioma. O que mais chamou atenção foram os ácidos biliares, produzidos no fígado. Essa família de moléculas eram as mais diferentes quando comparados os dois grupos: os ácidos biliares dos ratos com microbioma normal apresentavam aminoácidos diferentes, tudo influenciado pelas bactérias boas.
Esse tipo de influência é até mais relevante que a influência genética em certas condições de saúde. Na verdade, as bactérias boas têm o poder de modificar as expressões genéticas, conforme comenta o Dr. Pieter Dorrestein, que liderou o estudo:
“Ouvimos muito sobre como nossos genes humanos influenciam nossa saúde e comportamentos, por isso pode ser um choque pensar que poderíamos ter moléculas no corpo que parecem e agem de determinada maneira não por causa de nossos genes, mas por causa de outro organismo vivo. Este estudo fornece um exemplo claro de como os micróbios podem influenciar a expressão de genes humanos”.
Portanto, fica mais uma vez comprovado: seus genes não são uma sentença definitiva de doenças. Tanto eles quanto a sua saúde de maneira geral estão totalmente ligados às bactérias da sua ecologia intestinal. Cultive as melhores com alimentos fermentados, suplementos probióticos e evitando comida industrializada, grãos e açúcares. Este é o melhor atalho para uma Supersaúde!
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Referências bibliográficas:
- https://drrondo.com/ecologia-intestinal-pode-ajudar-na-recuperacao-de-avcs/
- https://drrondo.com/pele-ecologia-intestinal/
- https://drrondo.com/probioticos-podem-ser-a-resposta-para-sua-doenca-inflamatoria-intestinal/
- Global chemical effects of the microbiome include new bile-acid conjugations. Nature, 2020; DOI: 10.1038/s41586-020-2047-9.