Se você está em idade fértil e pensando em ter filhos, ou mesmo congelar os seus óvulos, eu quero lembrá-la que as escolhas de dieta e estilo de vida não afetam apenas você!
Elas também afetarão seus filhos e provavelmente seus netos também…
Se você nos dias atuais ainda acredita que a genética é o grande e único responsável pelas suas possíveis doenças futuras, esteja certa que não é bem assim.
Mas saiba que não é só você que pensa dessa forma…
Na imensa maioria dos casos dos novos pacientes que vem à clínica, logo na nossa conversa inicial já vejo isso… A pessoa acredita que ela já tem a sua própria sentença de morte determinada pela genética.
Antigamente essa era a posição da ciência, aonde acreditava-se que era 50% genética e 50% ambiental. Mas com a epigenética ficou muito claro que cerca de 90% das influências que vão afetar seus filhos e netos é ambiental e a genética só responde por cerca de 10%.
Isso significa que, embora nossos genes sejam importantes e nos predisponham a certas condições, nosso ambiente – e, especificamente, como nosso meio afeta a expressão de nossos genes – é um determinante muito mais importante de nossa saúde.
Um estudo recente publicado na revista PLOS Biology ilustra muito bem isso.
Os pesquisadores descobriram que quando um pai fuma cigarros, os efeitos nocivos são transmitidos aos filhos e netos.
Embora mais homens fumem cigarros do que mulheres, as consequências para a saúde nas mulheres grávidas recebem mais atenção pois representa riscos para a saúde da mãe e de seus filhos.
Usando um modelo de rato, observou-se que os descendentes expostos à nicotina apresentam hiperatividade, déficit de atenção e inflexibilidade cognitiva.
Esses fenótipos comportamentais estão associados ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e ao transtorno do espectro do autismo em humanos.
E essa constatação persistia na terceira geração.
Este estudo (e a maioria dos estudos sobre os efeitos multigeracionais da epigenética) foi feito em camundongos, então não podemos ter certeza de que esse mesmo efeito seria observado em humanos, apesar de não haver motivos para acreditar que eles não ocorreriam.
Portanto, esse é um pensamento preocupante!
Ou seja, isso sugere que as escolhas que fazemos sobre nossa dieta, estilo de vida e comportamento podem impactar diretamente a saúde de nossos filhos, netos e, possivelmente, gerações ainda mais distantes.
Nós não apenas transmitimos nossos genes, mas também transmitimos as consequências das escolhas que fazemos.
É como diz um especialista no assunto:
“Os genes carregam a arma, mas o ambiente puxa o gatilho”.
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Referências bibliográficas:
- www.drrondo.com/genes-nao-sao-sua-sentenca-de-morte/
- Am J Psychiatry. 1996;153(9):1138–42.
- PLOS Biology. October, 16. 2018
- Neurotoxicol Teratol. 2001;23:421–30.
- J Neurosci. 2012;32(27):9410–8.
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- Behav Brain Res. 2013;239:80–9
- Toxicol Sci. 2016;151(2):236–44
- Neuropsychopharmacology. 2011;36(5):1114–25
- Dev Neurosci. 2016;38(5):354–64