Quando falamos em preservar a natureza, na maioria das vezes estamos nos referindo a um equilíbrio ecológico ou ao ecossistema destinado a manter um meio ambiente favorável para a vida. Nosso objetivo é sempre o de criar uma linha de defesa e um equilíbrio entre os benefícios da natureza e a poluição.
Mas, quando o assunto é o nosso organismo, se pararmos pra pensar o ecossistema da natureza e o ecossistema do nosso sistema intestinal são perfeitamente idênticos. Observe: tanto a flora microbiana que encontramos nos solos, quanto a flora microbiana intestinal, são consideradas como verdadeiras barreiras de defesa indispensáveis para vários processos bioquímicos.
É sempre bom recordar que a flora microbiana de um solo fértil é particularmente rica. Para que você tenha uma ideia, em um terreno com um hectare de dimensão estima-se que haja cerca de 500 quilos de bactérias, 250 quilos de fungos e mais ou menos uma tonelada de minhocas. E é justamente da qualidade desta vida microbiana que depende a qualidade do solo e das culturas. Da mesma forma, o nosso intestino tem um papel semelhante. É ele quem age diretamente para que ser humano tenha uma vida saudável e resistente.
É incrível que somente agora os profissionais comecem a descobrir os mecanismos de equilíbrio e de defesa do nosso organismo, principalmente quando ouvimos a medicina se gabar de ter em suas mãos todos os segredos do corpo humano. Esta mesma medicina concentra as investigações sobre o mecanismo das células imunitárias sem ao menos pensar na possibilidade de existir outros mecanismos ainda mais sutis.
O conceito de uma flora intestinal saudável e indispensável para a saúde humana deve-se, essencialmente, ao microbiologista russo Elie Metchnokoff (1845-1916), discípulo de Pasteur que elaborou a sua teoria sobre a longevidade em relação aos micróbios intestinais. Graças a ele, hoje em dia já sabemos que a presença de uma flora intestinal aeróbica tem um papel essencial na luta contra as infecções. Uma flora intestinal anaeróbica pode estar na origem de diversas doenças crônicas, doenças respiratórias e também de distúrbios digestivos.
E por falar nisso, é interessante salientar que o nosso tubo digestivo contém cerca de 100 trilhões de bactérias que se renovam completamente a cada duas ou três vezes por dia. Só no cólon há mais de um quilo e meio destas bactérias, isso porque o nosso intestino é colonizado por bactérias sãs cuja quantidade aumenta de uma forma gigantesca na parte terminal do cólon, mesmo a das bactérias nocivas ligadas aos processos de putrefação.
De acordo com alguns precursores, entre eles o americano Dr. John Harvey Kellog, as bactérias sãs conservam o cólon limpo e constroem uma barreira contra as bactérias nocivas. Um equilíbrio entre estes dois tipos de bactérias minimiza as possibilidade de putrefação, gases, fermentação etc.
De onde será que vêm estas bactérias? Pois a criança enquanto ainda é um feto está absolutamente protegida. Acontece que ela é capaz de colonizar as bactérias vindas da mãe no momento do parto e também da atmosfera. O resto vai depender do tipo de aleitamento, se ele será materno ou industrializado.
Distribuição de bactérias no intestino humano
Ainda de acordo com Dr. John Harvey Kellog, o equilíbrio correto em um cólon saudável é de 85% de bactérias sãs e 15% de bactérias nocivas. Mas, infelizmente, na maioria das pessoas essa ordem é inversa. Esta diferença que conduz a uma grande multiplicação de bactérias nocivas, demonstra os maus hábitos alimentares e um mau funcionamento do cólon.
Os alimentos refinados e industrializados, os transgênicos, os produtos dos animais criados em confinamento, o açúcar branco e o pão branco favorecem o desenvolvimento das bactérias nocivas que vivem sem oxigênio (anaeróbicas). É importante saber que as bactérias intestinais sãs têm também uma outra missão: elas produzem praticamente todas as vitaminas hidrossolúveis, exceto a vitamina C; produzem também a vitamina B6, o ácido nicotínico, a vitamina B12 e o ácido fólico, além de assinalar a produção da vitamina K pelas bactérias intestinais.
Mesmo que não percebamos, temos em nosso intestino um verdadeiro laboratório farmacêutico e que precisa ser conservado, e não agredido. Isso porque, a nutrição do nosso organismo não depende somente da qualidade dos produtos que ingerimos, mas também da nossa flora bacteriana intestinal a qual também está relacionada com o metabolismo das gorduras e o equilíbrio do colesterol.
Para que você possa entender melhor, vamos ilustrar esta condição da seguinte forma: hoje em dia temos a tendência em abusar dos antibióticos que reduzem fortemente a população normal do intestino delgado que passará a se equilibrar muito lentamente. Com o passar do tempo, essa queda torna-se perigosa para um adulto, agora imagine o que acontece com um bebê. Para ele isso é como um golpe fatal, pois a flora intestinal ainda não está equilibrada.
Acontece que os antibióticos não são os únicos medicamentos culpados e prejudiciais à flora microbiana, certos analgésicos também são muito agressivos.
Tanto a flora intestinal, quanto a do cólon, só vão poder se manter sãs na presença das fibras; e sabemos que, comprovadamente as fibras são necessárias para melhorar o trânsito intestinal e lutar contra a prisão de ventre. Então, pode-se mesmo afirmar que as fibras são uma boa prevenção contra o câncer intestinal.
O papel das fibras
O cirurgião inglês, Dr. Denis P. Burkitt, que estudou profundamente o papel das fibras em relação às doenças do cólon, afirma que elas são a alimentação das bactérias normais do cólon que ao fermentá-las, produzem e mantém a acidez das fezes.São também as fibras as responsáveis por promover uma certa acidez no cólon, impedindo-o de se tornar demasiadamente alcalino, o que favorece o câncer.
Ao multiplicarem-se, as bactérias amigas utilizam para elas próprias as proteínas provenientes dos alimentos não digeridos no intestino delgado. Ao utilizarem a maioria dos aminoácidos não digeridos no seu próprio metabolismo, as bactérias limitam a produção de amoníaco que é uma substância tóxica para o cérebro e nervos. Mas, é preciso ter em mente que o papel das fibras não se limita apenas a estas funções. Elas também aumentam o volume das fezes, diluem as substâncias tóxicas que possam existir no cólon e aceleram o trânsito intestinal diminuindo o tempo de contato com a mucosa do cólon. Desta forma, as gorduras provenientes da alimentação são mais rapidamente eliminadas através das fezes. Caso contrário, são retiradas e penetram mais facilmente no organismo.
As bactérias intestinais controlam a digestão e a absorção das gorduras, chegando a impedir a sua acumulação no organismo.
O intestino e o cólon podem ser comparados a uma grande avenida que atravessa o nosso corpo, afrontando, em permanência, as bactérias nocivas e as toxinas como forma de nos proteger. O intestino pode ser considerado o anjo da guarda da integridade da nossa saúde. Só que para isso ele precisa de alimentos corretos, específicos e especiais.
Lembro de já ter dito várias vezes que o homem é simultaneamente resistente e frágil. E digo isso pois, internamente, estamos colonizados por bilhões de bactérias amigas e também por bactérias nocivas, ainda que em menor quantidade. Por conta disso, devemos nos esforçar ao máximo para conservar o equilíbrio da nossa flora intestinal.
Acontece que, infelizmente com a introdução dos alimentos industrializados e pouco naturais, alteramos este equilíbrio abrindo as portas para todo o tipo de doença. A lista das perturbações e doenças associadas à contaminação do intestino é longa e torna-se cada vez mais numerosa. As infecções são uma das primeiras consequências.Todos os esforços para combater estas situações se situam a nível da antibioticoterapia com recaídas cada vez mais graves que, por sua vez, causam maior desequilíbrio da flora intestinal.
É muito importante ter consciência do valor da alimentação de forma a fornecer ao organismo os nutrientes necessários, vitaminas, fibras, enzimas, etc. Não esquecer também os probióticos tão importantes para fortalecer o sistema imunitário e equilíbrio da flora intestinal.
Referências bibliográficas:
- Nutrition in Clinical Practice 2012 Apr;27(2):201-14
- Lancet, February 8, 2003;361:512-519
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- Scandinavian Journal of Rheumatology, 1995; 24 (Suppl. 101): 207-211
- Cell Host & Microbe 2012 Sept 13;12(3):277-88.
- Gastroenterology, 1992;102:1475-1482
- Science 2012 Sept 7;337(6099):1228-31.