Você está cansado, fraco, dolorido, frio, deprimido, e com um peso acima do normal, que não consegue perder de forma alguma… Além disso, apresenta libido diminuída e intestino preso. Até então você nem imagina que existe algo chamado T3 Reverso… Mas calma, já chegamos lá…
Ao observar esses sintomas, o seu médico pede os exames de tireoide. E então… eles vem normais! Como isso é possível? Independente se o resultado é normal ou não, você sabe que não está se sentindo bem. Aí o que o seu médico faz? Ele lhe diz que isso é “coisa da sua cabeça”!
Algumas vezes, a solução disso depende de outro teste simples de tireoide, que a maioria dos médicos não usa… Vamos falar dele e explicar porque ele pode esclarecer esses sintomas aparentemente inexplicáveis.
T3 Reverso
Ele pode ser a explicação dessa fraqueza de tireoide. Mas, o que é T3 Reverso? É exatamente o que o nome diz: a imagem em espelho do T3 Livre, a forma mais ativa de hormônio tireoidiano. Com essa conformação espacial ele não se encaixa nos receptores de tireoide de T3 livre, e com isso age bloqueando o verdadeiro T3 de fazer o que ele deveria nesse processo.
Então, os testes sanguíneos de tireoide realmente podem mostrar que o seu corpo tem bastante T3 Livre. O problema é que ele não pode fazer seu trabalho por causa do T3 Reverso que está obstruindo o seu caminho. Com isso, você tem todos os sintomas de hipotireoidismo, mas com os testes dizendo que tudo está normal.
Habilidade salva vidas
Entendo que possa parecer estranho que o nosso corpo produza uma imagem de espelho do T3 Livre, que na verdade o impede de fazer o seu trabalho. Porém, uma das primeiras funções do T3 Reverso é ajudar o corpo humano sobreviver da inanição.
O objetivo do T3 Livre é manter as células do corpo queimando energia com uma taxa constante. Muitas vezes a energia provém dos alimentos. Quando tem alimento suficiente, o nosso corpo normalmente produz uma quantidade equilibrada de T3 Livre e T3 Reverso.
Porém, na ausência de alimentos, a sua fonte de energia é a sua própria gordura corpórea. Com o objetivo de manter o T3 Livre queimando muito rápido a gordura, ocorre um aumento de T3 Reverso e o T3 Livre cai.
Conforme dura o período de inanição, mais T3 Reverso é produzido para bloquear a mesma quantidade pequena de T3 Livre. Com isso, a fonte de energia proveniente de gorduras corpóreas dura mais, então você pode sobreviver até que o alimento seja disponível novamente. Resumindo: em tempos de inanição o T3 Reverso pode salvar a sua vida.
Metais tóxicos
Outra possibilidade que não seja inanição, algo raro hoje em dia, é a presença de excesso de metais tóxicos que continua a manter o T3 Reverso alto. Isso acontece por causa do acúmulo tóxico de metais pesados, como chumbo, mercúrio, cádmio e outros metais tóxicos, que distorcem o fluxo normal dos hormônios tireoidianos, causando excesso de T3 Reverso a ser produzido.
Porém, conforme se eliminam esses metais, os níveis de T3 Reverso voltam ao normal e os sintomas hipotireoidianos desaparecem sem precisar suplementar hormônio tireoidiano. Portanto, antes de começar a tratar os pacientes, é importante ter a certeza se o acúmulo de metais tóxicos é a causa do problema.
O melhor modo de saber isso é com um teste de estímulo para eliminar metais tóxicos, feito com medicação injetável e avaliação de seus valores presentes na urina de 24 horas. Outra opção é o mineralograma, o exame de cabelo, que dá um perfil de pelo menos 3 meses de exposição aos tóxicos (clique aqui para ler um post sobre isso! ) .
Se o seu teste de estímulo de eliminação de metais pesados for positivo para metais, tenha como opção terapêutica o uso de terapia endovenosa de remoção de metais, que funciona muito bem, removendo esses tóxicos e recuperando os níveis de T3 Reverso para a normalidade. Com isso, os sintomas de hipotireoidismo tendem a sumir.
Teste completo de função tireoidiana
No caso dos pacientes que apresentam função tireoidiana reduzida, é necessário um quadro completo da sua tireoide. Um teste completo inclui:
- T3 Reverso (Tri-iodotironina reversa ou T3r) – sua composição envolve 2 moléculas de tirosina ligadas a 3 moléculas de iodo (iodeto), mas com as moléculas em posições antagonistas das moléculas de tirosina no T3 livre. É a imagem em espelho da T3 que bloqueia o T3 livre de fazer a sua função.
- T3 Livre (Tri-iodotironina) – consiste em 2 moléculas de tirosina ligadas a 3 moléculas de iodo (iodeto). É a forma bem ativa de hormônio de tireoide.
- T4 Livre (Tiroxina) – consiste em 2 moléculas de tirosina ligadas a 4 moléculas de iodo (iodeto). É armazenador e transportador de hormônio de tireoide.
- TSH (Hormônio Tireoestimulante) – produzido pela glândula pituitária, esse hormônio estimula a glândula tireoide a produzir seus hormônios, que inclui T4, T3, T2 e T1. Este hormônio normalmente, mas nem sempre, se eleva caso a glândula tireoide não esteja respondendo à estimulação normal de TSH. Só fornece uma visão geral da situação.
- T4 Total e T3 Total – são basicamente os mesmos hormônios em T4 livre e T3 livre, mas em vez de se ligarem ao iodo (iodeto) são ligados à tireoglobulina.
- Anticorpo de tireoglobulina (TGA) e Anticorpo tireoperoxidase (TPO) – quando um deles ou ambos estão elevados, isso indica doença autoimune. Esta condição é frequentemente (mas não sempre) associada com sensibilidade do glúten e gliadina. Estes anticorpos frequentemente são esquecidos, e podem causar a má função da tireoide.
- T2, T2 Livre, T1 e T1 Livre – esses hormônios não estão adequadamente pesquisados, porém, sabe-se que o T2 estimula o hormônio do crescimento em humanos, função mitocondrial, transcrição genética e enzimas. O T1 também tem importante função, apesar de ainda ser pouco entendido. Acredito que no futuro vão fazer parte deste perfil tireoidiano, conforme os estudos mostram os seus benefícios.
Mesmo que o T3 Reverso quase sempre indique um acúmulo excessivo de metais tóxicos, isso não significa que excesso de metais pesados sempre tem um T3 Reverso elevado. Além disso, o hipotireodismo nem sempre é causado pelos metais pesados. Muitos indivíduos tem esse problema por outras razões.
Referências bibliográficas:
- Mayo Clinic, Reverse T3 Testing
- Thyroid. 18(11):1207-14
- Hair, Trace Elements, and Human Illness. Editora Praeger. 1980
- The New England Journal of Medicine. 1999;340:424-429, 469-470.
- Prevenção: A Medicina do Século XXI. Editora Gaia. 2000
- American Association of Clinical Endocrinologist. Jan, 2003
- Prevent Disease. August 10, 2015