Está ouvindo? São os sons do Carnaval que se aproxima. Lá vem ele descendo ruas, ladeiras e avenidas. Então, é bom já ir se preparando, pois o bloco vai passar e te deixar uma bela de uma ressaca!
O Carnaval é a época do ano em que os brasileiros mais bebem, superando as festas de Natal e Ano Novo. Portanto, para evitar todos aqueles sintomas bem conhecidos como cansaço, náusea, dor abdominal, dor de cabeça, vômito, tonturas, acho importante que você entenda o que ocorre e como montar um programa preventivo contra a ressaca.
Alterações bioquímicas mais importantes
O álcool estimula uma série de reações no seu corpo que contribui para o aparecimento dos sintomas da ressaca, como:
1 – Aumento de frequência urinária:
O álcool inibe a secreção de vasopressina, um hormônio antidiurético que faz você urinar mais, com isso elimina mais eletrólitos.
2 – Desidratação:
Com o aumento da micção, há mais risco de ficar desidratado, com isso o cérebro perde água e você tem uma maior sensação de cansaço e tonturas.
3 – Aumento de Acetaldeido:
Quando o álcool chega ao fígado, uma enzima chamada álcool desidrogenase é degradada em acetaldeido, que na verdade é 30 vezes mais tóxica que o próprio álcool. Nesta fase, o seu corpo procura usar o estoque de enzima acetaldeido desidrogenase e glutationa, um poderoso antioxidante que é fundamental para a desintoxicação degradando o acetaldeido em acetato (algo similar ao vinagre) que é menos lesivo. Porém, se você bebe muito, esse estoque de glutationa se torna reduzido, o que permite que o acetaldeido aumente no seu corpo, causando os efeitos da ressaca.
4 – Bioprodutos da fermentação:
Incluem aqui acetona, acetaldeido e taninos. Estes podem piorar a condição da ressaca. Estão mais presentes em bebidas escuras, como uísque e vinho tinto.
5 – Efeito rebote da glutamina:
O álcool inibe a glutamina, um estimulante natural do seu corpo, gerando efeito depressivo, fazendo com que você caia no sono facilmente. Porém, quando se para de beber, o seu corpo procura elevar esse estoque de glutamina, o que causa um sono perturbado e pode até acordá-lo. Esse efeito rebote da glutamina pode gerar cansaço, ansiedade e até hipertensão arterial o que frequentemente ocorre na ressaca.
6 – Alterações gástricas:
Como o álcool irrita a mucosa gástrica, aumenta a produção de ácidos no estômago, o que promove náusea, vômito e dor abdominal.
7 – Alterações da glicemia:
O álcool pode levar a alteração da glicemia o que leva a tremores, alteração de humor e cansaço.
8 – Alterações vasculares:
O álcool promove uma vasodilatação, o que estimula a dor de cabeça.
9 – Resposta inflamatória:
O álcool estimula uma reação inflamatória fazendo com que o seu sistema imunológico incite agentes que provocam a ressaca, como alteração de apetite, distúrbio de concentração e problema de memória.
Programa preventivo antes de beber
Para evitar este desconforto pós-bebida e as consequências negativas que isso implica em termos de saúde, sugiro que você faça o uso de pelo menos um dos elementos abaixo uma hora antes começar a beber. Isso irá promover uma pré-desintoxicação em seu organismo.
- N-Acetyl L-Cysteína: Este aminoácido é importante, pois aumenta a produção de glutationa e reduz a toxicidade do acetaldeido que causa muitas manifestações da ressaca.
- Complexo B: Esta associação, especialmente pela presença de vitamina B1 e vitamina B6, ajuda a proteger o fígado. Além disso, o álcool depleta vitaminas do complexo B.
- Vitamina C: Trata-se de um potente agente antioxidante que protege o fígado contra a agressão do álcool.
- Magnésio: É o mineral mais depletado na presença do álcool. Tem efeito anti-inflamatório e reduz os sintomas da ressaca.
- Silimarina: Fitoterápico antioxidante que ajuda na proteção do fígado contra toxinas, especialmente o álcool e estimula a produção da enzima antioxidante glutationa, o principal protetor do fígado.
- Gengibre: Age protegendo o estômago, além de ser um anti-inflamatório fundamental para o fígado.
- Curcumina: Possui uma ação protetora do estômago, além de ser um anti-inflamatório fundamental para o fígado.
- Óleo de coco: Ajuda na geração de energia e protege a absorção a nível gástrico do álcool. Use quatro cápsulas ou duas colheres de sopa. Além disso, é rico potássio muito espoliado na ressaca.
- Óleo de oliva: Apenas duas colheres de sopa são suficientes para blindar a absorção do álcool a nível gastrointestinal.
Além das medidas acima que ajudam na metabolização e eliminação do álcool, aconselho também:
- a manter-se hidratado enquanto bebe e no dia seguinte;
- a alimente-se antes e durante o uso de bebidas, pois isso faz com que seu organismo assimile menos e mais lentamente a bebida;
- a repor eletrólitos no dia seguinte consumindo bastante água de coco e/ou caldo de osso;
- a ficar fora de acetominofen, um analgésico que coloca muita carga no seu fígado;
- a consumir ovos: rico em n-acetil l-cisteína, eles podem ajudar na sua recuperação pelo aumento de produção de glutationa, a principal enzima antioxidante e protetora hepática.
É importante você ter ciência que o álcool é uma neurotoxina que pode envenenar o seu cérebro e comprometer o seu equilíbrio hormonal, portanto use com moderação e aproveite bem todos os dias de folia!
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Referências Bibliográficas:
– Agents and Actions. April 1974 vol. 4 Issue 2, pp 125-130
– Mayoclinic.com Hangovers
– Indian Journal of Clinical Biochemistry. 2006 Oct 43(5):306-11