Tenho certeza que você já tomou remédios sem necessidade para os mais variados motivos. É claro que tomar um medicamento que necessita de receita, sem a mesma, é um erro imenso. Mas há algo igualmente problemático…
Aqueles remédios que podem ser comprados sem receita.
Já falei muitas vezes sobre o uso indiscriminado de protetores gástricos, como o omeprazol. Eles podem, na verdade, piorar seus problemas de estômago, como refluxo e azia, e até aumentar o seu risco de câncer.
Mas hoje vou comentar de uma pesquisa que envolveu remédios para dores, aqueles que todo mundo acredita serem inofensivos. Será que são mesmo?
Quando o uso de remédios sem necessidade é estimulado?
Um novo estudo, publicado por pesquisadores da McGill University, do Canadá, critica algumas pesquisas (ou a falta de delas) que acabam incentivando o consumo exagerado e sem necessidade de medicamentos para dor.
Eles observaram mais de perto a pregabalina, um dos remédios para dores mais usados no mundo. O grande problema é que o uso para alguns desses fins específicos sequer foram aprovados por autoridades de saúde. Mas, como isso acontece?
Os pesquisadores analisaram os estudos sobre a droga desde sua criação até sua aprovação para ser usada. E a conclusão foi de que, depois de aprovada pela primeira vez, as pesquisas seguintes focavam em descobrir para o que mais a droga poderia funcionar… E não em provar que ela realmente funcionava.
Resumindo: uma vez batido o martelo que o medicamento poderia ser usado, ninguém mais se preocupava em desenvolver pesquisas para questionar se era realmente boa… E sim para encontrar mais e mais usos.
Segundo um dos autores do estudo, o Dr. Jonathan Kimmelman:
“O desenvolvimento das drogas é como uma corrida de revezamento, onde o primeiro corredor está tentando mostrar que uma droga pode possivelmente funcionar, e o segundo corredor tenta provar que uma droga realmente funciona.
Esta corrida de revezamento funciona muito bem antes que a droga seja aprovada, porque reguladores de medicamentos como a Health Canada e a FDA impedem que as empresas comercializem até que tenham corrido toda a corrida. Uma vez que a droga já está aprovada, o segundo corredor, aquele cujo trabalho era provar que a droga funciona em outra doença, geralmente deixa o bastão livre.
Os médicos são livres para usar a droga para condições diferentes daquelas para as quais ela foi aprovada e não há obrigações para as empresas provarem que a droga funciona em outras doenças, o que significa que os testes de pesquisa que já aprovaram drogas para novas doenças muitas vezes encorajam o uso de tratamentos que podem não ser eficazes”.
O resultado disso você conhece bem: mais pessoas tomando mais remédios que talvez nem precisem. Mesmo que não precisem de receita, os medicamentos são indicados para usos não comprovados, ou baseados em fraca evidência científica. Este é o alerta dos pesquisadores.
E se você acompanha os artigos aqui do site, sabe o que eu sempre digo. A prevenção é a melhor medicina. Faça dos alimentos o seu medicamento preventivo, e não precisará tomar remédios sem necessidade. Eles devem ser usados só quando realmente precisamos deles. Lembre-se disso e tenha uma Supersaúde!
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Referências bibliográficas:
- Some research may be encouraging ineffective prescriptions, says new study. Eurekalert. 26 nov. 2018.
- Federico CA, Wang T, Doussau A, Mogil JS, Fergusson D, Kimmelman J. Assessment of Pregabalin Postapproval Trials and the Suggestion of Efficacy for New IndicationsA Systematic Review. JAMA Intern Med. Published online November 26, 2018.
- https://drrondo.com/protetores-gastricos-estomago/
- https://drrondo.com/efeitos-colaterais-secretos-medicamentos/