Quando você liga a televisão, vê uma revista ou está no trânsito e observa outdoors, quase que em 100% das vezes você se depara com propaganda sobre queimação ou dor de estômago.
Por todo lado, estão disponíveis e de fácil acesso medicações antiácidas, que são, para os tecnicamente inclinados, os inibidores de bomba de próton (omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol e dexlansoprazol) para alívio desses sintomas.
Por isso e pelo excesso de uso, muitas vezes contínuo, seja com ou sem orientação médica, que cada vez mais surgem estudos mostrando que no final eles fazem mais mal do que bem.
Você apresentar queimação de estômago de forma ocasional é algo frequente, especialmente pelo estresse do dia a dia, alimentação às pressas e sem mastigar adequadamente os alimentos.
Porém, quando essas dores se tornam frequentes, acabam interferindo com a sua rotina, podendo tornar-se uma condição crônica.
Segundo estudo norueguês, essas queixas têm aumentado em cerca de 50% após 2009.
E esses sintomas podem ser por algum problema no esfíncter inferior do esôfago, uma válvula que em condições normais não deixa a acidez gástrica retornar ao esôfago.
Porém, se por algum motivo essa válvula não está funcionando corretamente, você certamente vai apresentar essa dor e queimação que parece ser na parte superior do estômago.
Mas, na verdade, trata-se do ácido do estômago agredindo a mucosa do esôfago, o que cronicamente aumenta o seu risco de câncer de esôfago.
Então, é por isso que você usa essas medicações antiácidas (como os inibidores da bomba de próton), achando que reduzir a acidez resolve a sua vida.
É verdade, os sintomas parecem desaparecer por mágica…
Assim, você acaba cada vez mais apoiado nesse tipo de estratégia.
Só que, por mais que já hajam estudos mostrando os riscos de lesão renal crônica, hipertensão ou diabetes tipo 2 e ataque cardíaco, continua-se a usar esse tipo de medicação. Porém, recentemente um estudo da University of Hong Kong observou que o risco de desenvolver o câncer de estômago mais que dobra quando se usam essas medicações inibidoras da bomba de próton.
Isso ainda não é o suficiente para você sair desta zona de conforto?
Para checar o potencial que a infecção gera no câncer de estômago, os pesquisadores compararam o uso de duas medicações distintas, associadas com a terapia tripla para H. Pylori.
Foram usados inibidores da bomba de próton ou medicações antagonistas de receptores H2, como o Tagamet ou Pepcid, por exemplo.
Os pacientes foram monitorados por 7,5 anos, até desenvolverem câncer, morrerem ou completarem o estudo.
Nesse período, os pacientes que usaram inibidores da bomba de próton tiveram o dobro de risco de desenvolver câncer de estômago, enquanto os que tomaram um antagonista H2 não tiveram esse aumento.
Além disso, os pesquisadores observaram que os indivíduos que tomam inibidores da bomba de próton diariamente tiveram cerca de 4 vezes mais risco de câncer de estômago, quando comparado com quem usava 1 vez por semana.
O Dr. Wai Keung Leung, professor da Gastroenterologia da Universidade de Hon Kong alerta:
“Enquanto os inibidores da bomba de próton são um dos medicamentos mais utilizados para o tratamento da doença por refluxo, bem como a dispepsia, os clínicos devem ter cautela quando prescrevem inibidores da bomba de próton de longo prazo, mesmo para pacientes com H. pylori erradicados”.
Segundo o US Center for Disease Control and Prevention, cerca de 2/3 da população do planeta está infectado com H. Pylori, mas sem sinais clínicos.
Esse tipo de infecção é a maior causa de úlcera péptica e gastrite em todo o mundo.
Mas veja, esses inibidores da bomba de próton podem ser usados no tratamento dos sintomas de queimação gástrica, mesmo sem a presença de úlcera péptica.
Mas lembre-se que os estudos recentes mostram que, usados cronicamente, podem aumentar o seu risco de câncer de estômago.
Como esses antiácidos agem
Esses antiácidos, mais especificamente os inibidores de prótons, são designados para inibir a bomba de prótons nas suas células e com isso reduzir a quantidade de ácido produzido.
Qualquer célula do seu corpo que produz acidez usa a bomba de próton.
Com isso inibe-se a produção acida em qualquer célula, o medicamento não é seletivo só ao estômago.
Os cientistas de Stanford University and Houston Methodist acreditam que essas medicações possam estimular diversos efeitos colaterais perigosos.
Elas comprometem o sistema natural de desintoxicar as células, acelerando lesão e envelhecimento.
Portanto, sem a presença de ácido, há um acúmulo de toxinas intracelular, o que predispõe doenças.
Nós precisamos de acidez, pois sem ela haverá crescimento bacteriano intestinal predispondo H. Pylori e Clostridium difficite, Cândida, Compilobacter e até diarreia.
Sem essa acidez, a digestão dos carboidratos fica prejudicada, produzindo gás, o que gera aumento de pressão no esfíncter inferior do esôfago, enfraquecendo-o, e com isso aparecem os sintomas de dor e queimação gástrica.
E os estudos são claros: se essas medicações forem usadas por longos períodos, podem na verdade aumentar o risco de queimação gástrica com o passar do tempo. E pior, podem levar a efeito rebote de queimação caso você pare com a medicação.
Antiácidos e câncer de estômago
Já em 1985, estudos iniciais com Omeprazol (Prilosec) demonstrou um aumento de risco de câncer gástrico em ratos, independente de H. Pylori. Nessa oportunidade já começou uma preocupação com essas medicações.
Estudos realizados pela indústria farmacêutica foram interrompidos antes do final por demonstrar o risco importante de câncer gástrico, nos modelos animais.
Observou-se que nessas terapias prolongadas com esses antiácidos há um aumento de gastrina no sangue, o que gera um fator de risco importante para o câncer gástrico.
E já se observou que esse aumento de gastrina sanguínea compromete ao menos 30% dos usuários crônicos dessas medicações, especialmente nos que têm H. Pylori.
Como sair da dependência de antiácidos
A estratégia correta para se reduzir ou eliminar o uso de antiácidos requer paciência para se evitar o efeito rebote da suspensão da medicação.
Para isso, é necessário corrigir inicialmente a alimentação de acordo com o seu tipo metabólico, promovendo a otimização da digestão com essa combinação correta de alimentos.
Só assim se consegue, na sequência, começar o desmame da medicação de forma gradativa e, dependendo da resposta (o que é individual), dar os passos corretamente nesse objetivo.
Entendo que para isso é necessário um suporte médico nesse tempo de transição, que permite ao corpo desintoxicar e eliminar a medicação do seu metabolismo.
De forma geral os passos são:
- 1) Combinação alimentar de acordo com o seu tipo metabólico
- 2) Recuperar a sua ecologia intestinal
- 3) Começar o desmame do antiácido, gradativo
- 4) Quando retirá-lo, passar por outra medicação como os bloqueadores H2 (Zantal, Ranitidina, Tagamet ou Cimetidina) por algumas semanas
- 5) Desmame destas medicações, na sequência
- 6) Associar 1 a 3 colheres de vinagre de maçã não filtrado a 6% em 1 copo d’água, antes ou logo após as refeições.
Após essa sequência, é aconselhável manter o uso do vinagre de maçã, conforme orientado.
Referências bibliográficas:
- ABC News, December 21, 2011
- University College London, November 1, 2017
- WebMD, June 8, 2016
- Stanford Medicine News Center, June 10, 2015
- Howard Hughes Medical Institute, January 15, 2002
- Gut, 1985;26:1279
- Proton Pump Inhibitors, Book Review dx.doi.org/10.1136/gut.47.2.316
- Gut, 2006;55(9):1217
- British Journal of Clinical Pharmacology, 2017; 83(6):1298
- BMJ Open, 2017;7(6)