Não há dúvida de que o uso de radiação na medicina tem muitos benefícios. Entenda que eu não sou contra isso, pois as descobertas fornecem um argumento poderoso em termos de benefícios para sua utilização, mas com doses muito mais baixas de radiação, tanto em radiologia diagnóstica quanto em radiologia de intervenção.
Vejo com frequência pacientes sendo submetidos a tomografias, muitas vezes sem indicação, com a simples intenção preventiva, e muitos médicos fazendo uso desse recurso indiscriminadamente.
Se o objetivo realmente é prevenção, com certeza precisam rever os seus conceitos.
De acordo com estimativas da FDA, 1 em cada 2.000 adultos e 1 em cada 500 crianças desenvolverão um tipo fatal de câncer por exposição à radiação.
As tomografias encharcam você com ate 750 vezes mais radiação do que um raio X.
Um estudo publicado no New England Journal of Medicine mostrou que um terço das tomografias realizadas nos Estados Unidos é desnecessária, sendo que, dos pacientes analisados anualmente:
- 30% fez três tomografias
- 7% fez pelo menos cinco
- um enorme 4% fez mais que nove
E veja, os pesquisadores do estudo disseram que a radiação de apenas duas tomografias era semelhante à quantidade de radiação dos japoneses sobreviventes da bomba atômica – todos os quais têm risco elevado de morrer de câncer relacionado à radiação.
Efeito oxidativo no organismo
Num procedimento de raio-X médico, o dano biológico causado não vem diretamente dos fótons de raios-x. Vem dos elétrons que esses fótons “causam”, gerando radicais livres e promovendo o caos molecular e celular.
Por que as radiações radionizantes são tão prejudiciais
As principais razões são:
- causam mutações cromossômicas que são muitas vezes irreparáveis e os efeitos são cumulativos.
- causam mudanças de DNA que são provadas para levar ao câncer.
- causam danos no DNA em suas artérias, o que pode levar a doenças cardiovasculares.
- promovem instabilidade genômica, que é frequentemente vista nos cânceres mais agressivos.
- podem gerar diagnósticos errados e falsos positivos, aumentando a probabilidade de novos exames de acompanhamento e ainda mais sua exposição à radiação.
Tudo depende da exposição
Sempre estamos expostos a radiação, que é uma força natural à qual você está exposto todos os dias da sua vida, provinda de sol, pedras e da nossa comida.
O seu risco de morrer de causas naturais de câncer é muito mais alto do que o seu risco de morrer de câncer relacionado à radiação, mas uma tomografia só o aumenta.
Avaliando seu risco
A medição da radiação é realizada em milisievert (mSv). Uma avaliação médica, aonde observou-se os registros médicos de imagens de 1.243 pacientes durante 5 anos, procurou saber quanto eles haviam sido expostos e descobriu que em média os pacientes receberam 45 milisieverts (mSv) de radiação. 12% deles recebeu mais que 100 mSv.
Certamente uma boa porção desta radiação está vindo de tomografias.
Veja a tabela abaixo:
Forma de radiação | mSv | Quantidade equivalente de raios X | Quantidade equivalente de radiação natural |
1 – Raio-X de tórax | 0,02 | 1 | 2,4 dias |
2 – Tomografia de abdômen | 10 | 500 | 3,3 anos |
3 – Tomografia de corpo inteiro para homens | 15,2 | 760 | 5,1 anos |
4 – Tomografia de corpo inteiro para mulheres | 21,4 | 1.070 | 7,1 anos |
Se você observar os números 3 e 4, que se referem a tomografia de corpo inteiro para homens e mulheres, observará uma maior quantidade de radiação no caso das mulheres, especialmente pelo tecido mamário, que é altamente sensível à radiação.
Segundo um estudo publicado no Journal of the American Medical Association, descobriu-se que 1 em cada 143 mulheres que são submetidas à tomografia aos 20 anos de idade desenvolverão o câncer, enquanto somente 1 em cada 686 homens que são submetidos à tomografia na mesma idade desenvolverão a doença.
Certifique-se das suas opções
Normalmente, os médicos usam a tomografia para diagnosticar as doenças cardíacas, mas fica claro que só em situação crítica, como risco de morte, a tomografia é uma escolha óbvia.
Porém, para pacientes assintomáticos, aonde se realiza o exame “por via das duvidas”, não vale o risco.
Caso o seu exame esteja anormal, aí certamente vão lhe solicitar mais exames como o de estresse nuclear e um angiograma coronário – ambos entregando ATÉ MAIS radiação.
Aí o seu médico lhe diz que você precisa de cirurgia de ponte de safena, e você se dispõe a entrar na faca porque você acha que isto salvará a sua vida. Não importa que não tenha evidência nenhuma de que isto vá prolongar a sua vida.
Aliás, muito pelo contrário…
Tudo porque você fez um exame que você nem precisava fazer!
Como a radiação pode deixá-lo mais perto de um ataque cardíaco?
Com a exposição à radiação, o que causa danos no DNA em suas artérias, haverá comprometimento da parede arterial. Isso acontece porque as células que revestem suas artérias se multiplicam anormalmente, diminuindo o tamanho da luz arterial e efetivamente “estreitando” as artérias.
Essa alteração arterial é como se fosse um tecido de cicatrização, diminuindo a elasticidade do vaso e aumentando seu risco de bloqueio arterial.
É o que diz John Gofman, M.D., Ph.D., físico nuclear, médico e um dos principais especialistas do mundo nestas questões. Segundo ele, mais de 50% das mortes por câncer e mais de 60% das mortes por doença cardíaca isquêmica podem ser induzidas por raios-x. Portanto, fique atento aos exames que você faz. Converse sempre com o seu médico!
Referências bibliográficas:
- USA Today December 14, 2009
- New England Journal of Medicine. 2007; 357:2277-2284
- New England Journal of Medicine. 1980
- Radiation from Medical Procedures in the Pathogenesis of Cancer and Ischemic Heart Disease: First Edition: 1999 – C.N.R. Book Division -Committee for Nuclear Responsibility, Inc.