Estudos recentes têm mostrado que as crianças são mais susceptíveis à exposição ao mercúrio do que os adultos. Será que as crianças têm que reduzir o consumo de peixes, por ser uma fonte de contaminação significativa?
Sabemos que qualquer exposição ao mercúrio e outros tóxicos tem sido correlacionada com riscos para os adultos. Mas pouca atenção tem se dado às crianças, por entender-se que elas têm o mesmo grau de vulnerabilidade. Isso não é verdade! Há diferenças importantes entre crianças e adultos quanto ao efeito dos químicos tóxicos:
- As crianças têm maior exposição aos químicos por peso corpóreo. Elas consomem cerca de 7 vezes mais água, comem 4 vezes mais calorias e respiram o dobro de ar por kg / peso corpóreo que os adultos. Os estudos têm mostrado que crianças de baixo peso e estatura baixa tem apresentado aumento de toxicidade por mercúrio e outros compostos.
- A habilidade das crianças em metabolizar compostos tóxicos é significativamente menor do que a dos adultos, pois elas têm falta de enzimas necessárias para degradar e remover esses químicos do corpo.
- As crianças apresentam uma janela de vulnerabilidade maior, pois mesmo exposições por minutos podem comprometer a função orgânica, causando disfunção ao longo da vida.
- Crianças têm mais tempo para desenvolver doenças crônicas. Algumas doenças como câncer e condições neurodegenerativas podem levar décadas para se desenvolver.
Crescente preocupação entre consumo de peixes por crianças
Essas diferenças citadas podem explicar o que foi encontrado em um estudo realizado com 100 crianças, publicado no Environmental Research, aonde avaliou-se crianças entre 9 e 11 anos.
Não foi surpresa observar que as crianças que consumiam mais peixes tinham perfil lipídico melhor, altos níveis de HDL colesterol e pouco triglicérides. Isso é a prova de que o consumo de peixes reduz o risco de doença cardiovascular.
Porém, para surpresa geral, as crianças que consumiam mais peixe tiveram uma resposta brusca para o cortisol e marcadores inflamatórios elevados. Cortisol é o hormônio que desempenha papel crucial na nossa habilidade em responder ao estresse.
Os pesquisadores especulam que o mercúrio dos peixes aumenta a produção de proteínas inflamatórias, o que causa uma eventual supressão dos níveis de cortisol, inflamação sistêmica e comprometimento do sistema endócrino das crianças. E essas alterações ocorreram mesmo com níveis baixos de exposição ao mercúrio.
Esse não é o único estudo que mostra isso em crianças. Os pesquisadores da Universidade de Granada, na Espanha, observaram declínio de função cognitiva, memória e comprometimento verbal em crianças pré-escolares, mesmo em níveis bem abaixo dos limites convencionais.
Com tudo isso que foi exposto, você pode pensar que se deva reduzir o consumo de peixe por crianças, mas veja as considerações abaixo:
- Segundo estudo da Environmental Health Perspectives, o consumo de peixe pode somente responder por 71% dos níveis de mercúrio no corpo.
- Peixes e frutos do mar contém nutrientes vitais para o próprio desenvolvimento do cérebro, como ômega 3 , selênio, zinco e proteína de alta absorção.
- Salmão e sardinhas são ricos em ômega 3 DHA e EPA.
Portanto, aconselho que as crianças comam peixes. O que você deve fazer é sempre procurar estratégias para evitar a contaminação por mercúrio. Veja:
- Se o seu filho apresentar cáries, evitar usar obturações de amálgama. Dê preferência a resinas, pois é bem consistente na literatura a contaminação por mercúrio das obturações que passam a barreira hematoencefálica e placenta.
- Forneça à criança uma alimentação rica em glutationa, selênio, cobre, zinco, magnésio, B6, B12, folato e vitamina E.
O que eu posso lhe aconselhar é realizar um exame para determinação do nível de metais tóxicos em especial o mercúrio, e para isso aconselho realizar um mineralograma, mais conhecido como exame do cabelo. É extremamente confiável, pois avalia uma contaminação de cerca de 4 meses , diferente do sangue, que só avalia contaminação recente e pode ser falsamente alterado por tóxicos consumidos recentemente. Para entender mais sobre o mineralograma, clique aqui e leia um artigo especial sobre o exame.
Converse com o seu médico!
E continue comendo peixe !
Referências bibliográficas:
- Neurotoxicology, February, 1996.
- Journal of Advancement in Medicine, Spring, 1998;11(1):9-25.
- Nutrition Week, August 6, 1999;29(29):7
- Nutrition Week, January 19, 2001;31(3):7
- JAMA, April 2, 2003;289(13):1667-1674.
- Orthopedics, April2004;27(4):394-399.
- Pediatrics, September2004;114(3):577-583
- Family Practice News, April 15, 2004:2
- MedHypoth, 2005;64:946-954