Não é de hoje que venho pesquisando intensamente tudo que pode ajudar a melhorar a condição de saúde das pessoas, especialmente em termos preventivos de doenças, através da Nutrologia.
E por isso também o meu interesse de longa data por estudar as propriedades do vinho tinto e seus efeitos benéficos à saúde, quando consumido de forma moderada.
Com a Covid-19, a comunidade científica tem se empenhado muito em investigar possíveis soluções ou auxílios que possam contribuir na resolução desse problema.
E o vinho tinto tem despertado também esse interesse, especialmente pelo poder dos flavanoides na inibição da Covid-19.
Recentemente, foi realizada uma pesquisa na Universidade de Taiwan para saber se o vinho tinto, através de alguns de seus componentes, poderia ter efeito na inibição da atividade de duas enzimas que permitem a replicação do coronavírus.
O objetivo, no caso, era investigar se há algum componente natural que poderia ter efeito sobre o vírus, mas este estudo vai requerer uma segunda etapa e ainda não há conclusão definitiva.
Na verdade, essa investigação já vem sendo feita a aproximadamente 20 anos, realizada por dois pesquisadores canadenses, Michel Chrétien e Majambu Mbikay, após a epidemia de SARS que atingiu 26 países em 2003.
Agora o foco desses pesquisadores é aprofundar os estudos em relação ao Covid-19, tendo inclusive recebido um convite oficial para iniciar os ensaios clínicos na cidade de Wuhan, China, no final de dezembro de 2019.
Os alimentos ricos em polifenóis são bons para a saúde em qualquer circunstância, mas agora pesquisas sérias estão analisando o papel dos polifenóis no combate ao coronavírus.
O vinho tem vários componentes com efeito positivo direto e indireto na parte imunológica e até especificamente contra o Covid-19.
Existem somente três componentes naturais que agem contra o Covid-19 e, no caso do vinho, o que chama atenção é a presença de quercetina, um flavanoide poderoso, antioxidante, anti-inflamatório com altíssima capacidade antiviral e estimulante imunológico.
Além de ser encontrada no vinho, está presente em uma variedade de alimentos, como maçãs, vegetais verde-escuros, alcaparras, cebolas, chá, tomates, entre outros.
Também está em fitoterápicos como Ginkgo biloba, Erva de São João (Hypericum perforatum) e sabugueiro (Sambucus canadensis).
Só há um único produto natural que é considerado mais eficiente, que é a luteolina, um polifenol encontrado no radicchio, na pimenta malagueta verde, aipo e chicória, para citar como exemplo.
A quercetina já foi aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA) dos EUA como segura para consumo humano, e com isso os pesquisadores podem pular os testes em animais.
E se realmente funcionar, poderá ser um recurso eficiente, seguro e acessível, mas na forma isolada como suplemento, e não o vinho em si.
Princípio básico de ação da quercetina
Os poderosos efeitos antivirais da quercetina são atribuídos a três mecanismos de ação:
- Inibindo a capacidade do vírus de infectar células
- Inibindo a replicação de células já infectadas
- Reduzindo a resistência das células infectadas ao tratamento com medicamentos antivirais
Agora veja os benefícios da quercetina na imunidade:
– Age como carreador de zinco, ou seja, leva esse mineral para dentro da célula, onde auxilia na neutralização da replicação de vírus como o SARS Cov-2.
– Um poderoso estimulador imunológico e antiviral de amplo espectro.
– Auxilia na inibição da produção do fator de necrose tumoral α (TNF-α), uma citocina envolvida na inflamação sistêmica, induzida por lipopolissacarídeo (LPS) em macrófagos.
– Auxilia na inibição da liberação de citocinas pró-inflamatórias e histamina por meio da modulação do influxo de cálcio na célula.
– Auxilia no bloqueio da histamina e serotonina da liberação de mastócitos intestinais.
– Auxilia na regulação dos mastócitos em sua função básica nas células imunológicas.
– Ajuda a modular a resposta descontrolada pró-inflamatória que ocorre durante uma tempestade de citocinas causada pelo inflamassoma NLRP3.
– Auxilia na inibição da protease principal do SARS-CoV-2.
– Auxilia na regulação da capacidade de uma célula de gerar interferon tipo 1 quando atacada por um vírus.
– Auxilia no aumento da resposta do interferon a vírus, como o COVID-19.
Resumo de estudos publicados que confirmam sua ação antiviral
– Journal Medical Virology, em 1985, mostra que a quercetina inibe a infectividade e a replicação do vírus herpes simplex tipo 1, vírus da poliomielite tipo 1, vírus da parainfluenza tipo 3 e vírus sincicial respiratório.
– Experimental Lung Research, de 2004, em animais, mostra o efeito da quercetina sobre a gripe do vírus H3N2, promovendo aumento significativos nas concentrações pulmonares de catalase, glutationa reduzida e superóxido dismutase, inibindo com isso o processo oxidativo.
– Hepatology 2009 mostra que a quercetina pode também inibir a infecção por hepatite C.
– Antiviral Research, em 2010, em estudo com animais, descobriu que a quercetina inibe os vírus influenza A e B, com os seguintes efeitos:
- Impede que o vírus crie resistência à quercetina;
- Tem efeito terapêutico amplificado quando associada a outros medicamentos antivirais (amantadina ou oseltamivir), não permitindo geração de resistência a estas drogas químicas.
– Journal of Infectious Diseases & Preventive Medicine, de 2014, mostra a quercetina como um possível tratamento promissor para o resfriado comum. Além disso, reduz internalização, replicação viral in vitro, a carga viral, a inflamação pulmonar e o dano oxidativo.
– Virologica Sinica, de 2015, observou que a quercetina inibiu a replicação do vírus da hepatite B em células hepáticas humanas, protegendo-as da infecção, além de limitar a propagação em amostras já infectadas.
Quando combinado com medicamentos antivirais, o efeito antiviral foi bastante potencializado.
Segundo os autores, “Mostra também sua eficiência na inibição da secreção do antígeno do HBV [vírus da hepatite B] e a replicação do genoma em linhas de células de hepatoma humano, o que sugere que a quercetina pode ser um agente anti-HBV potencialmente eficaz”.
– Asian Pacific Journal of Tropical Medicine, de 2016, em estudo animal mostra quea quercetina inibia o vírus da hepatite em camundongos e o vírus da dengue.
– Journal of Agricultural and Food Chemistry, de 2016, mostra que a quercetina oferece proteção contra a replicação viral da influenza A H1N1 ao modular a expressão proteica através da regulação das proteínas de choque térmico, fibronectina 1 e proibitina.
– Viruses, de 2016, comprova que a quercetina inibiu uma ampla variedade de cepas de influenza, incluindo H1N1, H3N2 e H5N1. Segundo os autores, “Este estudo indica que a quercetina com atividade inibitória no estágio inicial da infecção por influenza fornece uma opção terapêutica futura para desenvolver produtos naturais eficazes, seguros e acessíveis para o tratamento e profilaxia de infecções [pelo vírus da influenza A].”
Além da quercetina, há outros componentes do vinho que também podem somar nesse benefício: ação imunológica, bactericida e antiviral.
São eles:
– Resveratrol
É uma verdadeira usina de benefícios de saúde. Está bem estabelecido pela ciência que o resveratrol tem propriedades antioxidantes, anti-inflamatória, cardioprotetora, antienvelhecimento e anticancerígena.
Em 2020, o National Institutes of Health PubMed listou 621 artigos mostrando seus benefícios.
Especificamente, no caso, promove:
- melhora do sistema imunológico ativando NKs (natural killer) e suprimindo a expressão de genes inflamatórios.
- inibição de infecção e supressão da replicação do RNA de coronavírus (MERS-COV), além de aumentar a resistência da célula.
- antiagregação plaquetária, reduzindo risco de coágulo e trombose, presente em estágios avançados de Covid-19.
- reparação do dano oxidativo no DNA das células.
- inibição da replicação do vírus A da influenza em animais, sugerindo que pode ser valioso como uma medicação anti-influenza.
- no intestino, os polifenóis também podem ajudar a apoiar bactérias intestinais benéficas (seu “microbioma”), inibindo espécies invasoras ou patogênicas. Isso é importante porque a saúde intestinal, ou a falta dela, também pode aumentar a vulnerabilidade a vírus como o coronavírus. Além disso, os estudos são claros mostrando que essa ação reduz o risco de infecção do trato respiratório superior em crianças e infecções respiratórias agudas em adultos.
E o resveratrol no vinho, por estar em meio alcoólico, tem a maior absorção possível, ao contrário dos outros alimentos e mesmo de suplementos nutricionais.
– Antocianidinas
É uma classe dos flavanoides que agem protegendo o seu corpo contra degeneração celular. Trata-se de um pigmento roxo encontrado na casca da uva, que influencia a sua imunidade e combate os vírus da seguinte forma:
- ação anti-inflamatória, antioxidante, antimicrobiana e antiviral.
- inibe a formação de coágulos sanguíneos.
- aumenta a produção de óxido nítrico.
- gera um subproduto, o ácido ferrúlico, que tem grande impacto na destruição viral.
- previne e controla resistência à insulina e diabetes, fatores que predispõe o Covid-19.
– Rutina
É um bioflavanoide potencializador da ação da vitamina C, evitando a sua oxidação e prolongando o seu efeito.
Aumenta também a resistência a infecções e resfriados.
A maior fonte de rutina são as uvas escuras e, portanto, os vinhos tintos.
– Hesperidina e Diosmina
Flavanoides abundantes no caroço e casca da uva, se mostraram efetivas contra uma proteína alvo, a M (pro), responsável por ajudar o coronavírus a se reproduzir.
Agora a boa notícia.
Consumir, no caso dos homens, 02 taças de vinho por dia, e no caso das mulheres, 01 taça, não compromete a sua saúde. Aliás, só melhora, inclusive a sua resposta imunológica.
Porém, o aumento do uso de álcool por dias ou semanas pode suprimir os seus benefícios.
Lembre-se que tudo depende da dose! Supersaúde!
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- Será o Vinho um Aliado Contra o COVID-19? – www.DrRondo.com