Na década de 50, o pesquisador americano Ancel Keys anunciou que a epidemia de doença cardiovascular era causada por gorduras vegetais hidrogenadas. Anteriormente, o mesmo pesquisador introduziu a ideia de que a gordura saturada era a grande culpada por este mal.
Diante disso, a indústria do óleo rapidamente respondeu a essa suposição como forma de proteger os seus produtos. Para isso, montou-se uma campanha que fazia crer que somente o componente de ácido graxo saturado no óleo hidrogenado estava causando o problema. Anunciaram então que estariam mudando a composição para gordura parcialmente hidrogenada e que essa alteração resolveria o problema.
Na verdade, o óleo já era parcialmente hidrogenado e então o nível de saturação continuava similar, assim como o nível de gordura trans. A partir desta data, a indústria do óleo promoveu a ideia gêmea de que os saturados (nomeando animal e gordura dos derivados de leite) eram o problema e os polinsaturados (óleo de milho e soja) eram geradores de saúde.
Acontece que em 1965 a American Heart Association (AHA) mudou as diretrizes retirando a recomendação de que deveria se diminuir a ingestão de gordura hidrogenada e também a referência negativa aos ácidos graxos trans. Assim, encorajavam o consumo de óleo parcialmente hidrogenado.
Com isso, o National Cholesterol Education Program acalorava o consumo de margarina e gorduras vegetais parcialmente hidrogenadas ignorando-se por décadas a real composição dos alimentos em relação à gordura trans.
Felizmente, essa postura vem mudando, mesmo que ainda os óleos vegetais parcialmente hidrogenados estejam tão presentes na alimentação moderna, em alimentos processados de restaurantes, padarias, lanchonetes entre outros.
As pesquisas mais atuais têm mostrado os efeitos adversos das gorduras trans para doença cardíaca, câncer, nascimentos de baixo peso, obesidade e disfunção imunológica. Isso porque, as gorduras trans promovem uma alteração da função celular, afetando muitas enzimas como a Delta 6 Desaturase e, consequentemente, interferindo na necessária conversão de Ômega 3 e Ômega 6.
Listamos aqui alguns dos Alguns dos efeitos adversos apresentados. Vale a pena prestar bastante atenção! São eles:
– diminuição do bom colesterol (HDL). Quanto mais gordura trans, menos e o HDL colesterol;
– elevação do LDL colesterol. Quanto mais gordura trans, maior é o índice de LDL colesterol;
– elevação do colesterol total em 20% a 30 %;
– diminuição do volume de leite das fêmeas, diminuindo assim a qualidade disponível para a criança;
– diminuição da acuidade visual das crianças;
– correlação com o nascimento de crianças de baixo peso;
– aumento do nível de insulina sanguínea em humanos, aumentando o risco de Diabetes;
– interferência nas respostas imunológicas, diminuindo as células B e aumentando as células T;
– diminuição da testosterona;
– interferência na gestação das fêmeas;
– aumento da resistência à insulina;
– inibição da conversão da enzima Delta 6 Desaturase;
– alteração das propriedades fisiológicas das membranas celulares alterando o transporte e fluidez das membranas;
– alteração do tamanho e do número das células adiposas;
– potencialização dos efeitos adversos da deficiência de ácidos graxos como Ômega 6 e 3;
– aumento da formação de radicais livres; e
– precipitação de Asma nas crianças.
Por isso, caro leitor, seja muito prudente ao consumir estes ácidos graxos trans se quiser se manter longe de qualquer tipo de doença cardiovascular. Sabemos que esses ácidos estão muito presentes em nossa dieta diária, mas cabe a nós termos o bom senso e a dedicação em tentar amenizar este consumo!
Super Saúde!
Referências bibliográficas:
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– Margarine is Anything but a Marginal Fat”, Raloff, J., Science News, May 21, 1994;325
– Soybean Oil and Trans Fats,” Nutrition Week, May 26, 2000;30(20):7
– Trans Fatty Acids May Impair Biosynthesis of Long- Chain Polyunsaturates and Growth in Man”, Koletzko, B., ACTA Pediatrica, 1992;81:302-306
– Primary Prevention of Coronary Heart Disease in Women Through Diet and Lifestyle,” Stampfer MJ, Hu FB, Manson JE, et al, N Engl J Med, July 6, 2000;343(1):16-22
– Trans Fatty Acids, Plasma Lipid Levels, and Risk of Developing Cardiovascular Disease: A Statement for Healthcare Professionals From the American Heart Association,” Lichtenstein, Alice H., D.Sc., Circulation, June 3, 1997;95(11):2588-2590.
– Do Trans Acids in Margarine and Other Foods Increase the Risk of Coronary Heart Disease?”, Longnecker, Matthew P., Epidemiology, November 1993;4(6):492-494
– Trans-fatty acids and sudden cardiac death,” Lemaitre RN, King IB, et al, Atheroscler Suppl, 2006; 7(2): 13-5. (Address: Cardiovascular Health Research Unit, Department of Medicine, University of Washington, Seattle, USA.