Infelizmente, a primeira coisa que as pessoas pensam quando ouvem “ferro” é anemia (deficiência de ferro), sem perceber que a sobrecarga de ferro é na verdade um problema bem comum e muito mais perigoso.
Ao mesmo tempo que seu corpo requer ferro em níveis adequados para mantê-lo bem, quando em níveis elevados, ele estará gerando uma série de doenças degenerativas por processo oxidativo.
Nesta condição ele é um catalizador da geração de radicais livres (espécies reativas de oxigênio) gerando danos ao DNA, proteínas, membranas celulares e disfunção mitocondrial.
Tanto o oxigênio como o ferro são essenciais para a produção de energia, mas também podem ser letais.
Como disse o neurocientista J. R. Connor, “a vida foi projetada para existir na própria interface entre suficiência e deficiência de ferro”.
Mecanismo da regulação da absorção do ferro
Nosso corpo tem um mecanismo para manter homeostase do ferro. Esse regulador do ferro é a hepcidina, uma proteína secretada pelo fígado. Quando seu nível de ferro é adequado, o fígado secreta hepcidina na corrente sanguínea, mantendo a absorção adequada.
Porém, com o excesso de ingesta de ferro regularmente, a hepcidina aumenta, inibindo a absorção desse mineral no trato gastrointestinal. Com isso, as células em todo o corpo começam a armazenar ferro na forma de ferritina (proteína que se liga ao ferro).
Por outro lado, quando seu nível está baixo, automaticamente o nível de hepcidina cai, estimulando as células gastrointestinais a absorverem o ferro da alimentação.
Mesmo assim, se você consome constantemente muito ferro, ou tem uma mutação genética que causa problemas na regulação da absorção, pode ocorrer sobrecarga.
O problema genético é a hemocromatose hereditária, que têm duas cópias defeituosas deste gene HFE, que regula a hepcidina. E a prevalência dessa síndrome é algo bem frequente.
O entendimento desta forma de absorção do ferro ficou claro com a descoberta da hepcidina, em 2000. Com isso, uma série de pesquisas tem mostrado como a sobrecarga de ferro pode ser perigosa, mesmo se você não tiver uma mutação do gene HFE.
Doenças ligadas ao excesso de ferro
1 – Doença cardiovascular
Uma metanálise de 55 estudos publicados em 2013 demonstrou uma relação positiva entre ferro e doença cardiovascular, sendo que quanto mais altos os níveis de ferro, maior o risco de doença. Isso ficou claro em 27 dos 55 estudos.
Para citar como exemplo, um estudo escandinavo mostrou que os níveis elevados de ferritina triplicam o risco de ataque cardíaco dos homens.
Numa outra publicação, pessoas com ferritina elevada tinham cinco vezes mais chances de sofrer um ataque cardíaco do que aquelas com níveis normais.
A conclusão, no caso, é que cada aumento de 1% na ferritina elevava o risco de ataque cardíaco em 4%. O único fator de risco que pesava mais do que a ferritina era o tabagismo.
Já uma análise canadense descobriu que o ferro elevado duplica o risco de ataque cardíaco em homens e quintuplica em mulheres.
2 – Diabetes
Já na década de 80 sabia-se que os pacientes que recebiam transfusões de sangue tinham um risco significativamente maior de diabetes. Isso mostra que o próprio ferro já é por si só um desencadeador de diabetes, e não apenas os fatores genéticos, como se pensava.
Mas só em 1997 realmente um estudo investigou essa conexão ferro-diabetes, mostrando que a ferritina é de fato um forte preditor de metabolismo disfuncional da glicose. O único fator mais forte é o índice de massa corporal.
Em 1998, nova associação entre ferro e diabetes confirmou que a flebotomia (doação de sangue) melhorou a sensibilidade à insulina e o metabolismo da glicose em indivíduos saudáveis e diabéticos. Isso foi reconfirmado em estudos publicados em 2005 e 2012.
No ano seguinte, novo estudo associou ferritina elevada a cinco vezes mais risco de diabetes em homens e quase quatro vezes mais risco em mulheres, uma magnitude de correlação semelhante à da obesidade.
Um pouco mais a frente, em 2004, a ferritina foi associada a um risco duplicado de síndrome metabólica, que também está fortemente associada com diabetes e doença cardiovascular.
E mais recentemente, em 2011, se comprovou a conexão entre saturação de transferrina (uma medida da carga de ferro em sua proteína transferrina) e risco de diabetes, concluindo-se que ao ter saturação de transferrina acima de 50% há uma elevação do risco de diabetes entre duas a três vezes e também aumento das taxas de mortalidade.
Portanto, se você consome muito carboidrato, isso só aumenta o seu risco, pois a queima de carboidratos como seu combustível primário pode adicionar 30 a 40 por cento mais radicais livres caso você tenha ferro elevado.
Infelizmente, nos dias de hoje, a maioria das pessoas queima carboidratos como seu principal combustível, em vez desse combustível ser a gordura, como ocorria com os nossos ancestrais.
Isso mostra o benefício da dieta keto nos diabéticos e pré-diabéticos.
3 – Câncer
Desde a década de 50 já se sabia que injetar grandes doses de ferro em animais de laboratório poderia causar tumores malignos. Porém, só 30 anos após é que se começou a investigar a ligação entre ferro e câncer em humanos. Atualmente, essa conexão é bem evidente como mostram alguns estudos:
- O risco de morrer por câncer é 300 vezes maior se a ferritina está elevada.
- Saturação de transferritina e níveis sanguíneos de ferro são mais elevados em homens que desenvolvem câncer, comparado com homens sem o problema.
- Doar sangue reduz entre 20% e 30% a probabilidade de desenvolver câncer comparado com não doadores.
- Uma meta análise de 33 estudos mostrou correlação entre o ferro em excesso e o câncer colorretal em 75% desses estudos.
- Ferritina elevada aumenta em três vezes o risco de câncer colorretal.
- Câncer de pulmão aumenta 1,5 vezes em pacientes com ferritina elevada.
- Pessoas com os níveis mais altos de saturação de ferro e transferrina têm o dobro do risco de morrer do que as pessoas com o menor índice
4 – Doenças neurológicas
Diversos estudos têm demonstrado que altos níveis de ferro causam agressão oxidativa cerebral, possivelmente por ter menos capacidade antioxidante do que outros tecidos do corpo, o que poderia torná-lo mais suscetível ao estresse oxidativo.
Esse metabolismo anormal no cérebro promovido pelo ferro pode ser um fator causal na doença de Alzheimer e em outras doenças neurodegenerativas.
Como você controla esse risco
Se você tem qualquer tipo de problema crônico de saúde e apresenta alto teor de ferro, é importantíssimo que você mude sua dieta padrão de carboidrato para uma dieta keto… Isso vai melhorar muito a sua saúde
Além disso, monitore seus níveis de ferritina sérica e GGT de 2 a 3 vezes por ano.
Ferritina
Os valores de referência dos laboratórios para ferritina ficam entre 200 a 300 ng / mL (499 a 749 nmol / L). Porém, para supersaúde esses níveis são altos demais, e o que os estudos mostram os valores seriam:
Mulheres 40 a 60 ng / mL
Homens 40 a 80 ng / mL
Mas não gerencie a sobrecarga de ferro com dieta, sendo radical em querer excluí-lo totalmente da alimentação, pois com isso você perderá todos os nutrientes incríveis que os alimentos ricos nesse mineral têm, como carne vermelha, fígado e ostras.
Doe sangue, pois é a maneira mais rápida e segura de melhorar seus níveis se estiverem em excesso, além de fazer um bem social.
Gama-glutamiltranspeptidase (GGT)
É uma enzima hepática que tradicionalmente tem sido medida para detectar a saúde, transporte de aminoácidos e peptídeos, além de função hepática.
A ferritina e a GGT são interativas, e quando ambas estão com níveis elevados é motivo de preocupação e precisa ser abordado.
Os intervalos de laboratório “normal” do GGT geralmente são:
Mulheres 40 a 45 U / L
Homens 65 a 70 U / L
Valor de referência do GGT para uma saúde ideal
Aqui, novamente não cometa o erro de se guiar pelo que é considerado “normal”.
Para uma saúde ideal, os intervalos que você deseja são:
Mulheres 9 U / L
Homens 16 U / L
Para reduzir a GGT é necessário aumentar a enzima antioxidante glutationa, que é antagonista. O modo mais prático é o consumo do aminoácido cisteína, encontrado na proteína do soro do leite, aves e ovos. Ele desempenha um papel importante na produção de glutationa no organismo.
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- Irondisorders.org, Four Important Tests Where Ranges for Normal Vary (PDF)
- www.drrondo.com/ferritina-quao-alto-e-muito-alto/