Todo ano, especificamente em 21 de outubro, celebra-se o Dia Nacional das Campanhas Preventivas de Câncer de Mama. Essa é uma data muito especial, pois ela alerta sobre a importância da detecção precoce do câncer, o que pode salvar a sua vida!
Porém, é preciso deixar bem claras as diferenças entre lesões não malignas e malignas através desta tecnologia.
Radiação ionizante é um risco de câncer
A radiação usada na mamografia é, por si só, um fator de risco para o desenvolvimento de câncer de mama. A própria compressão da mama, caso se tenha um tumor maligno, pode aumentar o risco de disseminação do mesmo. Cada vez mais os estudos têm confirmado que a mamografia leva a um tratamento exagerado e sem nenhum impacto em mortes por câncer de mama.
Em fevereiro de 2014, o Swiss Medical Board reavaliou os benefícios da mamografia e entendeu que as mulheres precisam ser informadas, de modo claro e equilibrado, sobre benefícios e riscos dessas avaliações – o que foi publicado no New England Journal of Medicine.
Isso provocou a crescente percepção mundial de que mamografia para câncer de mama, feita em populações assintomáticas, não tem sentido. Na Suíça, aboliu-se a mamografia precoce, o que já está ocorrendo em vários outros países – e com bons motivos.
A Sociedade Americana de Câncer anunciou recentemente novas recomendações para a realização de mamografia com o objetivo de diagnóstico precoce do câncer de mama. Segundo essas diretrizes, as mulheres agora devem passar por mamografia anual a partir dos 45 anos, e não dos 40 anos, como era indicado anteriormente. Isso é um reconhecimento do real risco/benefício que esse exame pode trazer.
Mamografia salva vidas?
De acordo com os trabalhos realizados nos últimos 5 anos ficam evidentes as repetidas conclusões, que mostram que a mamografia não salva vidas. Ela pode, na verdade, fazer mais mal do que bem, gerando resultados falso-positivos, que acabam levando a tratamentos muito agressivos com radiações que são indutoras de câncer.
Em 2010, uma publicação mostrou que a redução de mortalidade como resultado de avaliação de mamografia foi insignificante, na ordem de 2,4 mortes por 100.000 pessoas / ano. Em 2011, uma publicação no The Lancet Oncology mostrou, pela primeira vez, que mulheres que fizeram mais mamografias tiveram uma incidência cumulativa maior de tumores invasivos de mama em comparação com grupo controle que recebeu menos avaliações, num período de 6 anos.
Agora, novas pesquisas realizadas em Harvard e Dartmouth apresentaram resultados similares. Foram analisados 16 milhões de mulheres em 547 condados através dos Estados Unidos, não se observando nenhuma evidência de correlação protetora em 10 anos de mortalidade por câncer de mama. Os pesquisadores concluíram que as mamografias encontraram basicamente pequenos tumores, não letais, tipicamente não lesivos, mas que causaram um excesso de investigações e tratamentos levando a um diagnóstico aumentado do problema: eram rotulados como câncer seguindo critérios de avaliação, mas nunca causariam nenhum mal, agressividade ou letalidade. São tumores que podem ser curados com tratamento, mas que não precisam ser tratados e/ou curados.
Outra evidência importante é o fato de que quanto maior a taxa de mamografias, maior a incidência de câncer. Para cada 10% de aumento dos exames, houve aumento de câncer de mama em 16%. Porém, o que ocorreu é que os diagnósticos tiveram maior incidência nas fases iniciais de câncer de mama, mas não de estágios avançados, o que explica o excesso de diagnóstico destes pequenos tumores, sem alteração em mortalidade: diagnosticou-se câncer quase 2 vezes mais, mas a mortalidade permaneceu a mesma.
Fazer ou não fazer mamografia?
É compreensível a preocupação das mulheres em não serem diagnosticadas a tempo. Mas, apesar de ser uma opção de cada mulher, entendo que deva ficar claro o seguinte: achava-se que o ideal era realizar mamografia com frequência para maior possibilidade de diagnóstico. Porém, o que se vê atualmente, é um risco de promover o câncer de mama com essa exposição excessiva a radiações ionizantes, principalmente porque já se dispõe de técnicas de imagem que não utilizam essas radiações (como a ressonância magnética).
Além disso, segundo estudo publicado em 2012 pelo British Medical Journal, ficou claro que há mulheres que tem o gene especifico da mutação genética (BRCA ½), que é vulnerável a essa radiação indutora de câncer. Nesses casos, mulheres que foram expostas à radiação antes dos 30 anos tiveram o dobro de câncer de mama, em comparação com mulheres que não tinham esse gene específico. Ou seja, quanto maior a dose, maior o risco de desenvolver o câncer.
E então? Exame físico ou mamografia? Converse com o seu médico para que ele possa orientar seu caso em particular!
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Referências bibliográficas:
- Jornal O Estado de São Paulo. 21/10/15
- The New England Journal of Medicine April 16, 2014
- Swiss Medical Board December 15, 2013, Systematic Mammography Screening
- Journal of the National Cancer Institute July 17, 2012
- New England Journal of Medicine September 23, 2010;363(13):1203-10.
- National Cancer Institute BRCA 1 and BRCA 2
- Cochrane Database of Systematic Reviews October 7, 2009; (4):CD001877
- BMJ 2012;345:e5132
- Lancet Oncology November 2011;12(12):1118-24