Milhões de pessoas que tomam medicamentos para pressão sanguínea dormiram tranquilas achando que estavam seguras e acordam com uma péssima notícia. Remédios para pressão que possuem os princípios ativos do tipo “sartanas”, como a losartana, valsartana e irbesartana, estão sendo retirados do mercado, além de ser suspensa a sua fabricação, importação, distribuição e comercialização.
O motivo alegado é a “suspeita de contaminação”, por “impurezas”, conhecidas como nitrosaminas, no princípio ativo das “sartanas”. Isso ocorreu no Brasil e em outros países também.
Nitrosaminas e risco de câncer
O motivo dessa medida adotada é baseado no fato de que ela aumentaria o risco de câncer. Mesmo sendo considerado um problema em nível baixo, resolveu-se tomar uma decisão dessa grandeza.
E como ficam os pacientes que vem fazendo uso dessas medicações há 5, 10 ou até 15 anos ou mais?
Sabemos que o câncer pode se originar de causas diversas, mas como ficam as pessoas que já tiveram ou têm esse problema?
E o fato desse componente ser um “gatilho” para câncer no futuro?
Realmente é uma situação bem complicada…
Os perigos das nitrosaminas
A preocupação até então em relação as nitrosaminas era no caso do consumo de carnes processadas (bacon, presunto, pastrami, salame, calabresa, chouriço, cachorros quentes, salsichas e hambúrgueres), aonde os nitritos das carnes reagem com o ácido gástrico no estômago, formando compostos N-nitrosos nocivos.
Isso em parteé pela combinação de nitrito e proteínas da carne, que contém heme (um composto contendo ferro que faz parte da molécula de hemoglobina no sangue).
Nitratos a base de animais
Já no bacon, na forma curada a seco com um esfregão de uma mistura de ervas, açúcar, sal e sais minerais de nitrito de sódio, tem uma condição supostamente saudável, pois nesta composição se adiciona vitamina C.
A presença dessa vitamina auxilia na formação do pigmento nitrosil heme, que dá a cor vermelha maravilhosa, e auxilia na certeza dos nitritos se converterem em óxido nítrico saudável e não as nitrosaminas cancerígenas.
Por isso, a USDA exige o uso de eritorbatos e / ou ascorbatos de sódio no processamento de bacon, principalmente depois que achados consistentes de pesquisas indicaram que estas substâncias reduziam o nível de nitrosaminas substancialmente.
Hoje, o ácido ascórbico é rotineiramente acrescentado às carnes curadas junto com o nitrito. Assim, se promove a formação benéfica do óxido nítrico e inibem-se as reações de nitrosação no estômago que podem levar às nitrosaminas carcinogênicas.
Apesar de tudo isso, a carne processada (salsicha e embutidos) é classificada como um carcinógeno do Grupo 1. Portanto devem ser evitados e consumidos o mínimo possível.
Mas você sabia que os vegetais também contêm nitratos?
Isso não é um fator desfavorável, como pode parecer à primeira impressão, mas é importante entender quando são benéficos ou não.
Nitratos à base de plantas
Neste caso, os nitratos são convertidos em nitritos pelas bactérias orais durante a mastigação. Quando chegam ao estômago, entram em contato com o suco gástrico, podendo ser convertidos em:
- Óxido nítrico (benéfico) ou compostos N-nitrosos cancerígenos, como as nitrosaminas (maléficos).
Os antioxidantes (como a vitamina C e polifenóis), contidos nas plantas, ajudam a garantir que os nitritos sejam convertidos em óxido nítrico benéfico quando chegam ao estômago, e não em nitrosaminas prejudiciais.
Os alimentos vegetais mais ricos em nitratos são:
- Beterraba, rúcula, ruibarbo, coentro, alface, manjericão e acelga.
Estudos que correlacionam as nitrosaminas com câncer
Diversas publicações enfatizam isso, como os abaixo:
- As carnes processadas, segundo alguns estudos, mostram aumento do risco de câncer, infertilidade masculina e morte prematura.
- Em uma outra avaliação, mostrou-se que o consumo diário de carne processada, mesmo que em pequena quantidade, aumentaria a probabilidade de câncer de intestino em 20%.
- Já o World Cancer Research Fund adverte que “não há limite seguro” para comer carnes processadas. A recomendação é evitar completamente o consumo para minimizar o risco de câncer de intestino.
- Meta análise de 800 estudos, realizada pela World Cancer Research Fund, concluiu que a carne processada pode causar câncer colorretal em humanos.
- A Organização Mundial de Saúde classificou a carne processada como carcinogênica do Grupo 1, ao lado de tabaco e amianto. Mas precisa ficar claro que essa classificação pelo American Institute for Cancer Research e pela Organização Mundial de Saúde são baseadas em evidências, não no grau real de risco. Ou seja, as carnes processadas não podem ser consideradas com o mesmo grau de risco de fumar e se expor aos asbestos.
- Segundo a estudo do UK Biobank study com 262.000 mulheres, concluiu-se que o consumo diário de cerca de 9 gramas de bacon por dia aumentaria o risco futuro de câncer de mama.
E a pergunta que não cala:
Seriam as sartanas carcinógeno grau I, também?
Segundo a Anvisa, o consumo desses medicamentos não oferece risco imediato para as pessoas que deles fazem uso…
O que fazer então?
Não interrompa o uso da medicação, pois isso pode causar prejuízos imediatos, como risco de derrame, ataques cardíacos, insuficiência renal e morte. Procure seu médico que certamente vai lhe orientar a melhor opção no seu caso. Não tome nenhuma decisão por conta própria!
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Referências bibliográficas:
- World Cancer Research Fund: Food Nutrition, Physical Activity, and the Prevention of Cancer: a Global Perspective November 2007
- American Institute for Cancer Research, Processed Meat Brochure
- Scientific American October 26, 2015
- The Atlantic October 26, 2015
- NHS Choices January 3, 2018
- O Estado de São Paulo. 10/05/19 Caderno Metropoli A14