Presente em bolachas, salgadinhos, cremes e outras delícias, é a gordura mais prejudicial para o sistema vascular, mas só agora começa a despertar a atenção dos órgãos de saúde.
Embora seus efeitos nocivos já fossem apregoados pela medicina preventiva ortomolecular há algum tempo, só agora a chamada gordura trans entrou na mira de órgãos oficiais de saúde, como o americano FDA (Foods and Drugs Administration), que vai exigir a especificação de sua presença nos rótulos de alimentos processados.
A medida entra em vigor nos Estados Unidos em 2006, mas já começa a jogar alguma luz sobre essa inimiga oculta da saúde. Largamente usada pela indústria alimentícia – pelo seu baixo custo e capacidade de melhorar o sabor e aumentar a durabilidade dos alimentos –, a gordura trans agora é alvo de pesquisas nada animadoras. A mais recente conclusão é que ela é ainda mais nociva do que as gorduras saturadas. Ambas promovem aumento na taxa de LDL (o mau colesterol), mas o que a torna pior é sua capacidade de diminuir em cerca de 20% a presença do HDL (o bom colesterol).
Ela também reduz em 30% a função cardiovascular, aumentando o risco de obstrução das veias e de doenças cardíacas. Para os diabéticos, é particularmente danosa, pois interfere na capacidade de reação à insulina. E há estudos mostrando prejuízos à amamentação, pela redução do volume de leite produzido pelas mulheres em lactação.
Nada natural
Mas, afinal, de onde vem essa perigosa vilã? A gordura trans é resultado da solidificação de um óleo vegetal, por hidrogenação. Nesse processo, o óleo reage sob pressão com o hidrogênio a altas temperaturas, durante várias horas e na presença de níquel ou platina. O resultado é a degradação dos nutrientes naturais do óleo e, pior, a transformação dos seus ácidos graxos em substâncias de alta toxicidade e em compostos que nunca antes estiveram presentes na alimentação humana.
Hoje, em compensação, as pesquisas mostram que a gordura trans corresponde a algo em torno de 4% a 7% do consumo total de gordura nos Estados Unidos. Estima-se que, no Brasil, os índices sejam semelhantes. Suas fontes mais óbvias são o fast food e os alimentos de forno industrializados. Mas a falta de especificação nos rótulos impede um conhecimento exato. Também sobra para o consumidor outra dúvida: quanta gordura trans pode ser consumida sem riscos? A verdade é que o limite de segurança ainda não foi estabelecido e o próprio FDA recorre a uma fórmula vaga ao especificar que seu consumo deve ser “o mais baixo possível”. Seja como for, algumas indústrias alimentícias, como Nestlé e Lipton, já noticiaram que estão trabalhando para eliminar a gordura trans dos seus produtos.
A melhor saída
Os benefícios dessas iniciativas devem chegar também por aqui, embora as autoridades brasileiras de saúde ainda não tenham se pronunciado a respeito. Seja como for, o consumidor já pode adotar alguns cuidados na hora de escolher alimentos industrializados. O primeiro é consultar, na relação dos ingredientes, se ele contém itens como gordura vegetal, óleo hidrogenado ou parcialmente hidrogenado – quanto mais desses elementos presentes, maior a quantidade de gordura trans. Outra dica é, na tabela de informações nutricionais, somar os totais de gordura saturada, monoinsaturada e poliinsaturada e comparar com o número de gorduras totais – a diferença corres-ponde à gordura trans presente. Por fim, para combater seus efeitos nocivos, aposte no consumo de suplementos de ácidos graxos essenciais, colina e vitamina B3, que propiciam a emulsificação das gorduras e o aumento do bom colesterol. Esses nutrientes estão presentes também nos óleos vege-tais não-refinados, peixes, ovos, legumes, soja e derivados.
Os campeões, que chegam a conter de 30 a 50% de gordura trans na fórmula, são cookies, salgadinhos, fritas, pipocas de microondas, donuts, bolachas, maionese, margarina e cremes industrializados.