Temos cada vez mais ouvido falar em resistência a antibióticos, pelo surgimento das superbactérias.De acordo com o Dra. Beth Bell, diretora do National Center for Emerging and Zoonic Infections Diseases, o surgimento da bactéria Escherichia Coli, que carrega o gene de resistência a drogas mcr-1, é o principal sinal de alerta e da situação delicada em que nos encontramos. A principio, achava-se que esse risco seria o mínimo… Mas está se disseminando com extrema facilidade!
Gene mcr-1 causando resistência a todos as antibióticos
No ano passado, esse gene foi descoberto em porcos e pessoas na China. Trata-se de um gene mutante que confere resistência até mesmo ao antibiótico mais poderoso e visto como a última opção, apesar de gerar muitos efeitos colaterais. Estou falando do antibiótico Colistina.
Esse gene tem uma capacidade excepcionalmente elevada de transferir DNA com o gene mcr-1 entre diferentes tipos de bactérias, criando uma situação alarmante, necessitando rápida intervenção. O gene mcr-1 é como uma armadura, que pode ser usada para proteger a bactéria do ataque do antibiótico.
Disseminação geográfica
Depois de ser descoberto na China, há cerca de 1 ano atrás, o gene mcr-1 apareceu na Alemanha, seguido por identificação em amostra de porcos e pacientes tratados por E. Coli nos Estados Unidos. Agora, no Brasil, foram confirmados 3 pacientes contaminados pela E. Coli portadora desta mutação: 2 casos em São Paulo, no Hospital da Clínicas, e 1 caso no Rio Grande do Norte. Porém, já há outros casos em análise no Instituto Adolfo Lutz.
Soluções emergenciais
Cerca de 80% do antibiótico produzido na América é para uso em animais de confinamento, como gado, porcos, aves e peixes, sendo que a Colistina é empregada nessas praticas com bastante frequência, aonde é usada como promotor de crescimento dos animais. Deve-se proibir essa prática na produção de alimentos.
Os resíduos de antibióticos na carne e laticínios, assim como as bactérias resistentes, são transferidos para o alimento que comemos. Cerca de 22% das doenças por resistência a antibióticos em humanos está correlacionada com o alimento. Esse uso excessivo de antibióticos e as indicações erradas são os grandes responsáveis pela criação das superbactérias. Por incrível que pareça, mais da metade dos antibióticos usados em clínicas e hospitais ou não são necessários ou os pacientes estão recebendo a medicação errada para tratar as suas infecções. A engenharia de alimentos também é outro fator que contribui, pois possivelmente os transgênicos nos alimentos podem transferir material genético para a nossa flora bacteriana intestinal, conferindo resistência a antibióticos e tornando-os superbactérias.
Sem opção terapêutica?
Estamos ficando sem opções de antibióticos tendo que resgatar antigas drogas que foram abandonadas por boas razões, como por exemplo, a Colistina (introduzida no mundo em 1952 e que sabidamente causa lesão renal) se tornando a última opção de tratamento efetivo contra bactérias gran negativas.
Com isso, doenças comuns como bronquites ou amigdalites podem se tornar septicemias, podendo levar à morte. Cirurgias antes consideradas de baixo risco ou de rotina poderão ser de alto risco sem antibióticos. E as grandes cirurgias, como transplantes? Não se sobreviverá!
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) está enviando a todos os hospitais do Brasil com leito de terapia intensiva um alerta sobre a confirmação da presença de bactérias portadoras do gene mcr-1.
Até o momento, a melhor saída é o que sempre falo por aqui, dê preferência a carne e leite de animais criados a pasto, pois nesses casos não se usam antibióticos de rotina. Cuide de sua alimentação para se prevenir de doenças e procure manter o equilíbrio da sua ecologia intestinal, responsável por 80% das suas defesas imunológicas.
Converse sempre com seu médico para fazer uma prevenção correta e evitar tomar remédios desnecessariamente. Vamos ter cautela!
Referências bibliográficas:
- O Estado de São Paulo. 01/10/16 Pagina A25
- Scientific American November 19, 2015
- Lancet Infectious Diseases November 18, 2015
- Clin Microbiol Infect 2012; 18: 268–281 (PDF)
- Scientific American November 17, 2015