De acordo com estudo, dietas ricas em proteínas podem causar câncer. Será um estudo consistente? Descubra toda verdade agora!
O Jornal Folha de São Paulo do dia 11 de março deste ano, portanto na última terça-feira, trouxe em seu caderno Equilíbrio a manchete “Dietas da proteína EM XEQUE”. Nela o jornal fala sobre um recente estudo publicado no Journal of Cell Metabolism.
Ok! Então, vamos dar uma olhada básica sobre como este estudo se desenvolveu.
Bom, neste estudo os pesquisadores aplicaram um recordatório de 24 horas medindo o consumo de nutrientes (proteínas, carboidratos, gorduras e calorias) em seis mil participantes. Estes foram divididos em três grupos com base no consumo de proteína (baixo, médio e alto) no primeiro dia.
Eles seguiram com os pacientes por 18 anos, quando então mediram as principais causas de mortalidade, fossem elas por doenças cardiovasculares, câncer, diabetes entre outras.
Então, fazendo uma avaliação profunda dos dados publicados, eis que tenho algumas sérias considerações a fazer. Acompanhe:
1.º – Os autores analisaram estatisticamente os dados e tiveram suas interpretações. Agora, se olharmos os dados brutos, veremos que as taxas de câncer em todos os grupos de baixo, médio e alto consumo proteico foram respectivamente 9,8%, 10,1% e 9%. Não há diferença nenhuma, porém os autores fizeram alguns ajustes matemáticos para que pudesse chegar a essa enorme diferença.
2.º – Outro fator é que há numerosas questões que não são controladas no estudo, tais como o consumo de álcool, o consumo de vegetais e frutas, composição da gordura da alimentação (saturada, trans ou insaturada) e o consumo de açúcar, sendo tudo isto distinto do total de carboidratos e atividade física.
3.º – O total de calorias ingeridas é medido proporcionalmente ao total de calorias, ao invés da proporção entre gramas e o quilo de peso corpóreo. Com isso não se confirma o real consumo de proteínas.
4.º – A proteína no estudo não representa absolutamente todas as qualidades e fontes da alimentação proteica.
5.º – O estudo não distingue o tipo de proteína animal (carne, peixe, porco, laticínios, aves) e muito menos se estas eram processadas ou não.
6.º – Como um mecanismo potencial da ação dos investigadores, a pesquisa tratou a hipótese de que a ingestão de proteínas aumenta a insulina como fator de crescimento (IGF-1) e analisou se ela iria aumentar a taxa de crescimento de tumores já presentes nos ratos. Além disso, foram amostradas 2.200 pessoas para IGF-1, apesar de não informarem nem quando e nem em que condições isso foi feito.
Diante destas análises eu me pergunto como foi que estes pesquisadores chegaram a tais conclusões sobre a dieta de proteína? Como foram capazes de concluir algo com tanta falta de provas?
E há outro agravante. O pesquisador sênior deste estudo, VD Luongo, é o fundador do Sistema de Nutrição Vegan (relacionado a dieta vegana) e foi quem projetou o estudo e desempenhou papel importante na redação dos manuscritos. Isto é um grave conflito de interesses, fato que não foi abordado ou avaliado pelos editores da Cell Metabolism.
Então, é muito importante que você saiba que se trata de um estudo sem consistência e que não deveria ter sido valorizado como está sendo.
Eu fico indignado com estas situações. Como os autores são capazes de chegar a tantas conclusões sem nada de evidências e ainda por cima serem aplaudidos?
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Referência Bibliográfica:
– Low Protein Intake Is Associated with a Major Reduction in IGF-1, Cancer and Overall Mortality in the 65 and Younger but Not Older Population – 4 March, 2014, Volume 19, Issue 3