Particularmente, eu não gosto de começar as nossas conversas com informações negativas, mas neste caso não há como escapar. Afinal, a depressão vem ocorrendo com cada vez mais frequência, correspondendo atualmente a uma manifestação presente em aproximadamente 10% da população. O que é uma pena.
Anteriormente as pessoas imaginavam que a depressão era apenas um desequilíbrio da química cerebral, porém, hoje outros fatores já parecem ser bem mais significativos. Entre estes fatores está a inflamação crônica, desencadeada pelo estresse físico e ou emocional.
Há quem compare a depressão com reações alérgicas. Mas essa comparação só fará sentido se formos tratar essas reações como sendo uma “alergia ao mundo moderno”, considerando que muitos fatores ambientais são sabidamente causadores de inflamação, desde a alimentação até a exposição a elementos tóxicos e estresse.
Já não existe mais entender a depressão como uma condição exclusivamente psiquiátrica, mas também com iguais interferências entre as condições psicológicas, biológicas e saúde física. Além disso, os cientistas têm mostrado que a saúde mental pode ser afetada por fatores tais como a deficiência de vitamina D e o desequilíbrio da ecologia intestinal (flora).
Inflamação e Depressão
A inflamação parece ser um fator altamente determinante dos sintomas depressivos e os pesquisadores mostram que certos marcadores biológicos, como as citoquinas no nosso sangue e os mensageiros inflamatórios (proteína C reativa, 1L-1, 1L-6), têm potencial para serem as novas ferramentas de diagnóstico, pois são preditivos e apresentam correlação linear com a depressão.
Uma vez o corpo estimulado, esses agentes inflamatórios transferem informações para o sistema nervoso, basicamente através da estimulação do nervo vago que conecta o trato digestivo ao cérebro, onde as células cerebrais especializadas são ativadas em estado inflamatório.
Intestino e saúde mental
Existem diversos estudos mostrando que a inflamação gastrointestinal tem importante papel no desenvolvimento da depressão, sugerindo que as bactérias boas (probióticas) podem ser parte importante no tratamento.
Veja as correlações diagnosticadas:
- A inflamação crônica é considerada um fator contribuidor de depressão, inflamações gastrointestinais, doenças autoimunes, doença cardíaca, diabetes tipo 2 e câncer. Os pesquisadores sugerem que a depressão pode ser uma manifestação neuropsiquiátrica, fruto de uma síndrome inflamatória crônica.
- Um crescente número de estudos tem mostrado que o tratamento de inflamação gastrointestinal com probióticos, vitaminas B e vitamina D melhoram os sintomas depressivos e a qualidade de vida, por atenuarem o estímulo pró-inflamatório cerebral.
- As pesquisas sugerem que a causa primária de inflamação possa ser a desfunção do eixo intestino/cérebro.
Talvez você não saiba, mas um dado curioso é que o intestino é considerado, literalmente, o nosso segundo cérebro. Isso porque ele é originado de tecidos embrionários idênticos ao do cérebro durante a gestação e contém altos níveis de serotonina, um neurotransmissor que está associado ao controle do humor.
Vale ressaltar também que as bactérias do intestino são uma parte ativa e integrada da regulação da serotonina, sendo capaz de produzí-las em maior quantidade do que o cérebro. Portanto, estimular a flora bacteriana é fundamental para se otimizar os níveis de serotonina no organismo.
Caso você consuma alimentos processados e açúcares em grande quantidade, a sua flora bacteriana estará seriamente comprometida, pois estes alimentos tendem a dizimar a microflora saudável promovendo inflamação e reduzindo a saúde do intestino.
Alimentação e Depressão
Além de alterar a microflora, os alimentos refinados e o açúcar estimulam uma cascata de reações químicas no nosso organismo capaz de promover tanto a inflamação crônica, quanto a depressão.
O consumo excessivo destes alimentos causa uma elevação nos níveis de insulina provocando um efeito negativo no humor e na saúde mental. Isso acontece devido ao aumento da secreção de glutamato em nosso cérebro, correlacionado com a agitação, depressão, raiva, ansiedade e ataques de pânico.Com relação ao açúcar é preciso salientar também que ele suprime a atividade de um hormônio conhecido como fator neurotrófico cerebral (BDNF) que promove neurônios cerebrais saudáveis.
Sendo assim, em termos alimentares, para tratar a depressão devemos:
- Limitar o consumo de açúcar e frutose, assim como os grãos, pois todas as formas de açúcar estão ligadas ao comprometimento da flora intestinal. Devemos cuidar para o que o consumo de frutose não ultrapasse 25 gramas por dia.
- Evitar alimentos transgênicos, pois eles podem comprometer a flora intestinal, promovendo a inflamação crônica. Devemos ter a consciência de que esses alimentos estão contaminados com glifosatos que destroem seletivamente as bactérias benéficas promotoras da saúde no trato intestinal. O ideal é que procuremos alimentos orgânicos e que não tenham sido expostos a pesticidas.
- Introduzir alimentos fermentados em nossa alimentação para que eles ajudem a equilibrar a flora intestinal. Como exemplo destes alimentos nós temos o kefir, o iogurte, natto e vegetais fermentados.
- Fazer atenção a fatores que possam comprometer a nossa flora intestinal. Por isso é preciso evitar os antibióticos, água clorada, sabonete antibacteriano e o consumo de carnes de animais criados em confinamentos.
Observe que a deficiência de sódio também cria sintomas que são muito parecidos com a depressão. Diante disso, não utilize sal processado (sal de mesa); utilize o sal natural, como o sal do Hymalaia, que contém aproximadamente 84 nutrientes diferentes.
Colesterol e Depressão
O uso de medicações para reduzir o colesterol, como as estatinas, por exemplo, promovem a redução da serotonina cerebral tendo como efeito colateral a depressão e o comportamento violento.
Vitamina D e Depressão
Não é de hoje que eu venho alertando que a vitamina D possui um papel significativo na saúde mental. Estudos revelam que os baixos níveis de vitamina D são responsáveis por, pelo menos, 11 vezes mais desenvolvimento de depressão, quando comparado a indivíduos com níveis normais.
O meu conselho é para que todo mundo tire um tempinho para ficar ao sol, pois assim é possível atingir níveis adequados para a saúde física e mental, uma vez que os valores de vitamina D devem ficar entre 50 e 70 ng/ml.
Além disso, é interessante suplementar a vitamina D para uma mais rápida melhora dos sintomas. E lembre-se também de pedir ao seu médico para fazer solicitações periódicas das taxas de vitamina D no sangue para evitar a toxicidade.
E mais, fazendo uso de suplemento de vitamina D é aconselhável associar outros nutrientes que agem em conjunto, como a vitamina K2, magnésio e cálcio.
Exercício físico e Depressão
A atividade física é um dos melhores remédios quando o assunto é depressão. Basicamente, os exercícios ajudam a normalizar os níveis de insulina e estimular a produção de endorfinas. Os pesquisadores descobriram também que o exercício permite que o nosso corpo elimine Kynurenina, uma proteína lesiva associada com a depressão, que é produzida por estresse e fatores inflamatórios.
Insônia e Depressão
Procure dormir um número de horas suficiente, pois dormir pouco pode ser um fator chave para desencadear a depressão. Apesar da maioria das pessoas pensarem que a insônia é um sintoma de depressão, é importante salientar que ela, na verdade, vem antes da doença.
Suplementação e Depressão
Além de indicar medidas para restabelecer a boa ecologia intestinal, recomendo que você suplemente a sua alimentação com o ômega 3 e óleo de coco. Estes dois elementos são os mais importantes para que haja uma ótima função cerebral, eliminando os sintomas de depressão.
Tempo sentado e Depressão
Quando alguém te disser “levanta já daí e vai ser feliz”, essa pessoa está te ajudando, e muito. Afinal, ficar muito tempo sentado não é nada bom tanto para a saúde de um modo geral, quanto para a saúde mental.
Um estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine, ficar sentado por um período de tempo prolongado pode causar um forte efeito depressivo.
Os pesquisadores chegaram a esta conclusão após analisaram aproximadamente nove mil mulheres entre 50 e 55 anos. Eles concluíram que as mulheres que ficavam sentadas por mais de sete horas por dia apresentaram 47% mais risco de depressão do que as mulheres que ficavam sentadas durante quatro horas ou menos. A matemática aqui é simples: reduzir o número de horas em que ficamos sentados pode aliviar os sintomas da depressão. É aconselhável se movimentar a cada 15 minutos para evitar esta condição.
Depressão ou quase depressão?
Existe uma distância grande entre a felicidade e a depressão. Inclusive, muitas pessoas sofrem do que chamamos de depressão subclínica, ou seja, estas pessoas estão no estágio “quase deprimido”, cujos sintomas não são severos suficientes para precisar de tratamento clínico.
Sinais de depressão subclínica
Entre os principais sintomas da depressão subclínica estão:
- inabilidade para curtir coisas que antes considerava divertida;
- ficar irritado facilmente e reagir excessivamente para incidentes pequenos;
- achar desculpas frequentes;
- sentir-se muito estressado e nunca conseguir fazer tudo o que programa;
- ausência de bem-estar geral;
- menor controle sobre a vida;
- perda de satisfação com o trabalho; e
- diminuição da satisfação com o casamento e ou outras relações pessoais.
As pesquisas indicam que pelo menos 75% dos casos de depressão subclínica vão se transformar em depressão se não reconhecida e tratada a tempo.
Por outro lado, a depressão é associada com pensamentos de morte e suicídio, além de sintomas de falta de esperança, ausência de apoio, tornando-se muito difícil reconhecer e pontuar esses sintomas. De acordo com a American Association of Suicidology e outras organizações, além de haver um aumento de até quatro vezes no risco cardiovascular, a principal preocupação relacionada à depressão ainda é o suicídio.
Fatores de risco de suicídio
Os depressivos com tendências suicidas quase sempre apresentam os seguintes quadros:
- pensamentos suicidas;
- estresse importante recente (perda de parentes, trauma, perda de emprego, etc…);
- instabilidade, irritabilidade e comportamento agressivo;
- aumento do consumo de álcool ou drogas;
- presença de distúrbio psiquiátrico (depressão, distúrbio de comportamento);
- dormir muito ou nada;
- tristeza e ansiedade;
- alteração de peso, apetite ou hábito alimentar;
- perda de interesse ou prazer em atividades sociais ou esportivas.
É preciso prestar bastante atenção a estes sinais. Com depressão (ou até mesmo a quase depressão) não se brinca.
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Referências Bibliográficas:
- Am Journal of Geriatric Psychiatry December 2006; 14(12): 1032-1040
- JAMA Psychiatry. 2013;70(8):821-829
- Biology of Mood & Anxiety Disorders 2014, 4:10
- Brain, Behavior and Immunity 2013 Jul;31:1-8
- Gastroentorology 2013 Jun;144(7):1394-1401
- American Journal of Preventive Medicine September 2013
- Mental Health and Physical Activity June 2013
- Journal of Health and Social Behavior 2013; 54 (4):498-515.
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- PsychCentral.com December 7, 2013
- Neurology July 30, 2014
- International Breastfeeding Journal 2007 Mar 30;2:6