De todos os novos diagnósticos de câncer de mama obtidos através da mamografia, cerca de 25% caem nesta categoria. O carcinoma ductal in situ (CDIS), também conhecido como câncer estágio zero, é quando ocorre crescimento anormal de células, formando uma lesão tipicamente entre 1 e 1,5 cm em diâmetro, conforme descrito na Revista Forbes.
Há uma grande controvérsia, pois alguns peritos argumentam que o CDIS deveria ser reclassificado como uma condição não cancerígena, enquanto os defensores da mamografia alegam que eles estão “salvando vidas” através da “detecção precoce” e o tratamento de CDIS.
Entendem o CDIS como “pré-cancerígeno” e argumentam que ele poderia evoluir e causar danos, caso não tratado, e que deveria receber a mesma terapêutica agressiva daquela usada para o câncer invasivo. Porém, o que ocorre de acordo com as evidências, é que menos da metade de CDIS evoluem para câncer invasivo. O melhor seria não fazer intervenções e monitorar sua evolução.
Segundo a Revista Time Magazine, um estudo publicado mostrou que “não importa como a mulher foi tratada para o CDIS, o risco de mortalidade é de 3% – semelhante à média para a população em geral.” O artigo também aponta o problema com a prática de referir-se às lesões não invasivas como o CDIS como “câncer”.
“O câncer tem um problema de linguagem – não apenas da maneira que falamos sobre ele, como uma guerra que convoca soldados que nunca se registraram para a guerra, que combatam e ganhem ou batalhem e percam. Também há o problema da palavra em si. Uma mulher de 57anos de idade com um CDIS de baixo grau que provavelmente nunca se tornará invasiva ouve a mesma palavra que uma mulher de 34 anos de idade que tem malignidades metastáticas que irão matá-la. Isto causa confusão em pacientes condicionados a tratar todo diagnóstico de câncer como uma emergência…”.
Mamografia: acrescentando incertezas
Segundo um estudo de segmento de pacientes por 40 anos, observou-se que 40% das lesões CDIS ainda não tinham sinais de invasão. O uso da mamografia é uma forma de prevenção de câncer de mama, mas pode gerar falsos diagnósticos de câncer e justificar tratamentos desnecessários.
Veja o caso de uma mulher tratada por CDIS, que teve sua história contada em detalhes pela Revista Forbes:
“Apesar de evidências crescentes dos danos significantes da mamografia, comparadas aos benefícios relativamente modestos, muitas mulheres norte-americanas obedientemente continuam a receber exames anuais. Por que elas continuam entusiastas da mamografia? Em grande parte, porque muitas mulheres que foram danificadas pela mamografia acreditam o contrário.
Ao identificar lesões não invasivas a mamografia tem criado uma comunidade de mulheres incorretamente convencidas de que o exame salvou as suas vidas… A comunidade da sobrevivência fortemente advoga a triagem agressiva do câncer de mama, uma situação algo irônica, dado que muitos peritos acreditam que os programas de triagem agressiva tenham expandido artificialmente o número de mulheres que agora se identifica como sobreviventes.”
Novos exames genéticos que podem colaborar nas melhores decisões terapêuticas
No caso da CDIS, dispomos atualmente, do seguinte exame genético especifico:
- Oncotipo DX CDIS, o indicador de risco de recidiva e se há benefícios para o uso de terapia de radiação após uma lumpectomia.
Um protocolo de CDIS está sendo criado em cinco centros médicos da Universidade da Califórnia. As mulheres diagnosticadas com CDIS nestes centros terão opção de vigilância ativa e rastreamento ao longo do tempo, para avaliar os resultados de várias opções de tratamento.
A cirurgiã de câncer de mama Dra. Laura J. Esserman – uma oponente bem verbal do sobrediagnóstico e sobretratamento do câncer de mama – lidera o estudo Wisdom, que irá aleatoriamente designar mulheres com CDIS a receber triagem anual por mamografia ou uma abordagem personalizada.
Recentemente, o The New York Times, avaliou a abordagem mais cautelosa da Dra. Esserman ao tratamento de câncer de mama:
“No mês passado, a abordagem dela foi apoiada por um estudo de longa duração publicado no jornal JAMA Oncology. A análise de 20 anos de dados de pacientes defendeu a abordagem menos agressiva ao tratamento do CDIS, pela qual a prática atual quase sempre envolve a cirurgia, e frequentemente a radiação. Os resultados sugerem que a forma de tratamento pode não fazer diferença nenhuma nos resultados…
Tão convencida está a Dra. Esserman que a maioria dos pacientes não se beneficiará da detecção precoce de tais lesões, que ela tem recomendado ao Instituto Nacional do Câncer que, para muitas lesões do CDIS, a palavra portentosa ‘carcinoma’ seja excluída do termo médio para elas e que sejam rebatizadas ‘lesões indolentes de origem epitelial,’ ou IDLEs.”
De fato, esse é um dos assuntos mais polêmicos atualmente, e que ainda será motivo de muitos debates. Quer se informar ainda mais? Veja meus outros posts sobre câncer de mama clicando aqui. Supersaúde!
Referências bibliográficas:
- Forbes September 8, 2015
- Time October 1, 2015
- New York Times September 28, 2015
- JAMA Oncology August 20, 2015. doi:10.1001/jamaoncol.2015.2510