O apelo de perder peso rapidamente pode ser uma armadilha perigosa quando o equilíbrio do organismo é ameaçado por mudanças radicais do metabolismo e de sua química natural.
Polêmica, a dieta pró-gordura, que conquistou adeptos famosos no Brasil dos anos 80, saiu do baú e voltou à mídia. O motivo foi a divulgação de recentes estudos das universidades de Washington e do Colorado, EUA, atribuindo-lhe benefícios como maior emagrecimento, menor recuperação dos quilos perdidos, melhores taxas do chamado colesterol bom e diminuição dos níveis de triglicérides. Falta ainda pesquisar seus efeitos sobre os rins e o fígado.
É justamente nos riscos para esses dois órgãos, e também para o sistema cardiovascular e a bioquímica do corpo, que residem as críticas ao método preconizado por Robert C. Atkins – o médico americano pioneiro na indicação do livre consumo de gorduras e proteínas, associado ao controle de carboidratos, como fórmula de emagrecimento. Ou seja, apesar da atraente promessa de resultados rápidos, é melhor pensar duas vezes.
Raras exceções
A teoria de Atkins é que a obesidade resulta de distúrbios na produção e liberação de insulina – a substância usada pelo corpo para transformar os açúcares dos carboidratos em energia. Para resolvê-la, seria preciso privilegiar fontes de energia que não dependessem de insulina. É o caso das gorduras e proteínas, metabolizadas por enzimas e, depois, armazenadas pelo fígado como combustível para todas as nossas atividades.
A indicação da dieta pró-gordura, portanto, deveria ficar restrita a alguns casos especiais e, mesmo assim, com suplementação de vitaminas minerais. Os portadores de diabetes tipo 2 são os que mais podem se beneficiar dela, princi-palmente quando associada à prática de exercícios. Por tempo limitado, obesos com dificuldade para “queimar” gordura também extraem vantagens da mudança de metabolismo induzida por essa dieta. Mas os ganhos param aí.
Equilíbrio é a melhor receita
Contrariar a natureza tem seu preço. E os carboidratos são nossa fonte natural de energia. Sua carência causa danos celulares irreversíveis, compromete o funcionamento do cérebro e das células nervosas e estressa a bioquímica do corpo. Outro problema é a indução a um estado permanente da chamada cetose – que deprime o apetite, pode levar à desidratação e favorece a perda de cálcio.
Cria-se um círculo de danos, pois o cálcio vai acidificar o sangue, sobrecarregar os rins e fragilizar o intestino, favorecendo a ação danosa de bactérias. Além disso, há perda de músculos e aumento do ácido úrico na circulação, o que pode causar gota. O maior prejudicado, no entanto, é mesmo o sistema cardiovascular. A gordura consumida leva à sua degeneração e aumenta os níveis de dióxido de carbono no organismo, acelerando o envelhecimento. A melhor forma de emagrecer e manter a boa nutrição é o consumo equilibrado de carboidratos (65% das refeições) e de proteínas e gorduras (respectivamente 30% e 10% do cardápio). Para controlar a insulina, os carboidratos complexos (de grãos, vegetais, massas integrais) são opções que trazem benefícios crescentes para o sistema imunológico.
Também os nutrientes aceleradores do metabolismo são um caminho natural para a queima de gordura. Acima de tudo, é importante atacar as causas da obesidade, como disfunções hormonais, sedentarismo, maus hábitos alimentares e até questões psicológicas. O resultado é menos peso com mais saúde e energia.